sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Boa de morder

O apelido me deram ainda jovem.
Ficou.
Motivo de briga discussão e fim de algumas amizades.
Com o tempo acostumei.
Como tudo na vida.
Fora de peso uns cinquenta quilos.
-cinquenta e seis pra ser exata.
Gordinha sim mas muito tesuda.
Louca de paixão amor carinho pra dar.
Nas minhas coxas homem nenhum jamais minguou.
Quantas noites atravessadas em braços fortes?
Quantos suspiros arrancados pelo meu vestidinho roxo?
-me acabando nas tardes de samba de par em par?
Sei que causei algumas brigas entre famílias.
Que culpa tenho se eles não tiram o olho de eu?
Com o meu corpo negro ardendo nas safadezas da imaginação?
-em todas as posições de quatro meia nove erguendo o vestidinho devagar.
O sonho de todos eles?
Cochichar aqui bem baixinho:
Neguinha minha.
Mas isso não é pra qualquer um não.
Só selecionado.
Difícil sou e faço charminho.
Que eles gostam mesmo é de sedutora.
Mulher fácil tem vida breve.
Basta o decote provocando?
Que nada.
Nos pequenos detalhes o segredo da conquista.
Do perfume no umbigo à vela no quarto.
A voz de mansinho dizendo bimbada.
Pra começar o incêndio a lambidinha na orelha.
E um ou outro truque também pra melhorar.
No pé a unha vermelha esconde a verruga inimiga.
-onde mesmo ela foi se meter?
Comigo homem nenhum sai insatisfeito.
A campeã da chave de coxa.
Macia farta boa de morder.
Nunca me faltam elogios.
Palavras juras de paixão.
Desesperados pra repetir a dose no meu ninho de amor:
Cê mata a gente desse jeito Jabuticaba!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Pedido

No meu último suspiro
Já sem forças pra me debater
-agonizando no leito da morte
Que você clame baixinho no meu ouvido:
Goza na minha boca amor.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Cadê a grana vacilão?

Quinta-feira.
22h37
Encosto a Pampa na praça da rodoviária velha.
Nenhum pedestre.
Nenhuma pomba.
Apoiado na janela ele me mostra a cruz no braço.
Cadê a grana vacilão?
Mais de vinte dias pra ajeitar a dívida.
Isso por causa de pedra.
Vício maldito.
O punhal prateado brilhando à luz do poste.
Desce da Pampa doidão!
A Pampa.
Presente do meu pai antes de morrer.
Eu vou mas ela fica pra te guiar meu filho.
A Pampa.
Onde comi algumas namoradas.
Desce da Pampa doidão da porra!
O punhal espetando o peito cheira à morte.
-ou ferida das bravas.
Como explicar depois na construção em casa no barbeiro?
Sequestro por engano?
O mistério do roubo da Pampa?
Nem seguro tem.
Fuça dentro do carro.
Confere se algo na carteira.
Apalpa minhas partes bem apalpado.
Rindo.
Meio bêbo chapado.
Sabe que tá fudido né?
Sou só o menor deles vacilão.
Não é mesmo pra ter medo de eu.
Lê alto meu endereço na carteira.
Ainda hoje só mais umas hora seu puto!
Na Pampa entro vou embora e dou a volta no quarteirão. .
Estaciono debaixo da mesma árvore.
Ao lado da banca de jornal.
Ele vem furioso.
Arregaça a manga pra intimidar.
Sabe que sou cagão.
Que tenho família emprego além de tudo boa reputação.
O punhal prateado volta a brilhar sob a luz do poste.
Abre a boca o banguela vem falando merda.
Gritando na praça vazia.
Três disparos no meio da fuça dele.
Impiedosos.
Aos pombos um banquete incomum de carne fresca.

Maníaco da moto

Eu tinha brigado com o Baiano.
Ele já tava bêbado.
De olho na gordinha da mesa ao lado.
Vai saber o que fez com ela depois do Meu Pato.
No meio da briga me chamou de puta.
Gorda baranga do carai.
Com o taco de sinuca ameaçou uma surra.
Ali mesmo no meio do bar.
O Celso e o Bode tavam junto.
Eles pensam que sou trôxa.
Bem sabia o motivo da alegria.
Comemorando mais um assalto.
Pagando cerveja pra todo mundo.
Era só pedir.
Daí na esquina mesmo liguei pro moto taxi.
Esperei dez minutos.
O cara parou na minha frente.
Esticou o capacete.
Corrida pra onde mesmo?
Moro perto dali.
Na rua perto do Bar do Vermelho.
Mas não arrisco voltar andando não.
Terra de maníaco é Maringá.
Rua Vasco da Gama.
A cor?
Preto feito a morte.
Que era bonito era.
Não tava nervoso.
Subimos pra Avenida Cerro Azul.
Ele virou o redondo certinho.
Seguiu.
No meio da Cerro Azul o pedido.
Se eu incomodava de passar num amigo.
Coisa rápida 5 minutos.
Só pegar um boné emprestado.
Não quis não.
Ele disse que não ia cobrar.
Entrou numa vilinha.
Uma coisa esquisita.
Ruas estranhas.
Logo me perdi.
Vi que tinha algo errado.
Parou a moto numa rua deserta deserta.
Na pressa de descer queimei a perna no escapamento.
Neguinha minha!
Todo fogoso veio pra cima de mim.
Musculoso.
Macho pra danar.
Se não gritei?
Não parava de tremer.
E a voz nessas horas desaparece.
Em momento algum tirou o capacete.
Deu uns tapinhas na minha bunda.
Eu desesperada.
Ele me fodeu feito um animal.
Descontrolado.
Viseira aberta.
Acabado.
Um último tapa na bunda.
Com o capacete bati nele.
E corri.
-minha salvação.
Não posso ouvir barulho de moto.
Entro em desespero.
Lembro dos detalhes.
Do Baiano me ameaçando com taco.
Da vilinha.
Dele deitado sobre eu.
A voz desaparece.
Fico muda sem palavras.
Forte dispara o coração.