quinta-feira, 21 de julho de 2011

Etapas

Chico Buarque, Modigliani, Woody Allen:
Convidar Fernanda uma segunda vez para beber cervejas no Tribos

Chico Buarque, Modigliani, Woody Allen,
Hatoum, Kafka, Tezza:
Convidar Fernanda uma terceira vez para beber cervejas no Tribos
(notar se ela tem o “silêncio que precede as emboscadas”, que tanto falou Agualusa)

Chico Buarque, Modigliani, Woody Allen,
Hatoum, Kafka, Tezza,
Josué Demarche, Rubem Fonseca, Dalton Trevisan:
Intimar Fernanda para cantar Lou Reed noite adentro
-e encontrar qualquer defeito em Fernanda
O jeito como pronuncia a letra r
Sua voz impostada nas notas agudas
Não poderia ser mais macio o sorriso de Fernanda?
(Fernanda tem cara de quem come jornalistas no café da manhã)
Se no luau não encontrar nenhum defeito em Fernanda
Evitar na madrugada sem sono escrever um poema para Fernanda
Escondê-lo se já escrito
-e jamais
Em hipótese alguma mostrar os versos para Fernanda

Chico Buarque, Modigliani, Woody Allen,
Hatoum, Kafka, Tezza,
Josué Demarche, Rubem Fonseca, Dalton Trevisan
Bergman, Elomar, Arvo Part:
Controlar o desespero e a ansiedade
Quem sabe talvez enviar o poema para Fernanda
Abrir uma conta conjugal na segunda-feira
E nunca mais perder Fernanda de vista

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Tobias dos Santos Santos

Covardes
Sinto
-ah se sinto
O calafrio no pé da nuca?
Não sou idiota
Não eu
Eu?
HAHAHA
-idiota nunca não
Sei que tão querendo me matar
No começo até ficava assustado
Com um tempo de polícia nascem culhões que ninguém prevê onde
Deixa só
Como se nada
De noite quem teme é meu salmo bíblico em corpo humano
Cada dia novo susto agarrada em mim
Preocupada mais com a minha morte
Que com a minha vida
Depois do café ela tão meiga
Passa a manteiga beija me benze
Deus na minha testa pelo indicador macio dela
Que o nosso Senhor esteja sempre
Tudo naquela voz desconcerta
Regressam os homens à Igreja
Desistem das guerras e mortes
Em silêncio o teu lado ruim desaparece
Pra onde?
Covardes
Ninguém faz isso à minha cotovia
Carta de ameaça com sangue de galinha?
Azar o deles porque com ela longe de mim
No Borba Gato na casa dos pais
Já tô ouvindo aqui de novo ó
Como eles gritam
Sempre desse lado tá vendo?
HAHAHA
Minha mão Gordão me controla
Se fico dois meses sem dar pipoco em malandro
Tremendo não para quieta
Nunca tomei gota de álcool
Cigarro faz mal pra saúde
Maconha tô fora
Meu único vício
-só falar nisso olha que delícia eles ficam loucos gritando
Mexeram com o infeliz errado
Meu único vício
-e não é gostoso escutar o coral agudo de anjos desconhecidos dentro de você?
Gosto de primeiro quebrar as unhas
Rir a deformação da coragem
Rir dos gritinhos de perdão me deixa ir por favor me deixa vivo
Dá uma coisa boa
Dizer na cara deles é o Magrela
Enquanto se debatem apavorados rangendo dentes
É o capitão Tobias dos Santos Santos
Que o inferno seja tua morada
Ser o último segundo de um filho da puta agonizando
Ó como treme a mão Gordão

terça-feira, 5 de julho de 2011

Mediterrâneo

Na mesa desse restaurante
Tento não entediá-la demais entre
Entradas
Paella
E um Ramón Roqueta branco

Só para ler o silêncio em seu rosto
Busco no baú alguma coisa engraçada
-mas esqueço que há muito tempo deixei de ser engraçado

Falo do Bergman?
Lembro o murro que tomei bêbado num bar recentemente?
Menciono as experiências com heroína na faculdade?
Que traía minha ex-namorada com putas antes de encontrá-la?
Ou prometo um soneto um conto uma caricatura para ela?

Ela fala do cachorro que cava buracos imaginários pela casa
Fala do ex-namorado ciumento paranóico
Fala da mãe com saudades
-não sou filha ausente
Fala de um filme estoniano que me deixou curioso
Diz que vai parar de falar quando vier a paella
-não consigo falar e comer me desculpa?

O frio é covarde
Hesitamos em fumar lá fora
Aceso aqui dentro
Um cigarro queima o meu estômago e esôfago
Quero desembarcar nela
Se ela não perturbar minha solidão