sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Os melhores de 2007:

Pois é, seguindo os critérios mais exigentes, rabisquei uma listinha sobre o rock independente desse ano. O resultado surpreendeu. Tira de lá, põe pra cá, apaga, revive, relembra e conclui. Foi divertido pacas rememorar esse ano de 2007:
Melhor disco:
Terminal Guadalupe (PR) – “A marcha dos invisíveis”



Melhor show:
Raphael Souza (AM)



Melhor música:
"Hacienda Mecanica" - Hacienda (SP)



Revelação regional:
Os Leminskes (Mgá)



Banda mais estilosa:
!Slama (MG)


Melhor balada:
Terminal Guadalupe (PR) - “De Turim a Acapulco”

Pior disco:
Superguidis (RS) – “A amarga sinfonia do superstar”



Melhor Acústico Garagem:
Thunderbird e os Devotos de Nossa Senhora Aparecida (SP)


Pior Acústico Garagem:
Poser Pride (GO)


Biquinho sensual:
Fábio Elias - Relespública (PR)

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Da idolatria xiita à mediocridade


Em 23 anos de carreira, a banda gaúcha Engenheiros do Hawaii converteu milhares de pessoas a uma idolatração xiita, sob os comandos de Humberto Gessinger, que arrebanha, a cada verso, mais almas perdidas para contemplá-lo a declamar, açodadamente, as suas palavras como se fossem palavras santas.
Gessinger é um cara chato. É fácil notar em qualquer entrevista. Além disso, ele responde e age como se fosse um poeta. Gessinger é uma espécie de totem intelectual. É o Apocalipse.

Não são raros os momentos em que alguém, no bar, entre conversas, recita um trecho de sua “obra poética”. O preocupante é que não é só na informalidade que Humberto desponta como um poeta e intelectual.

Ao lado de Platão, Balzac, Tolstói, Saussure, Voltaire, Muniz Sodré, Santo Agostinho e Jean Baudrillard, diversos acadêmicos parafraseiam os versos do compositor de “Ana, teus lábios são labirintos, Ana. Que atraem os meus instintos mais sacanas” em apresentações e trabalhos acadêmicos.

Uma rápida vasculhada no Google traz inúmeras citações. Por exemplo, na interessante dissertação de Wesley Martins Teles, “Sistema adaptativo para web sites baseado no comportamento da formiga”, apresentada como requisito à obtenção do grau de Mestre, pelo Departamento de Ciência da Computação, na Universidade de Brasília: “Se queres paz, te prepara para a guerra. Se não queres nada, descansa em paz”, GESSINGER, Humberto.

“Preciso me perder, como preciso de ar. Perder o rumo é bom, se perdido a gente encontra um sentido escondido em algum lugar”, GESSINGER, Humberto. Essa, virou citação em tese de Doutorado em Agronomia, “Morfogênese, dinâmica do perfilhamento e do acúmulo de forragem em pastos de capim-marandu sob lotação contínua”, apresentada à Escola Superior de Agronomia, Universidade de São Paulo, em março de 2004.

Exemplo de trabalho acadêmico não menos interessante que cita Gessinger, eruditamente, é a fantástica dissertação de Mestrado “Desenvolvimento e avaliação de Sistema envolvendo Interface de análise por interjeição em fluxo com eletroferose capilar”: “Nem sempre faço o que é melhor pra mim, mas nunca faço o que não ‘tô a fim de fazer”, citado logo abaixo de uma citação do filósofo Albert Camus. Repito: é o Apocalipse.


Devido aos raros momentos de acertos, conseqüência de insistentes e extenuantes jogos de vogais e consoantes, para os fãs, as construções poéticas de Humberto Gessinger são dignas de serem tachadas como geniais.

“O que você não quer eu não quero insistir, então, diga a verdade, doa a quem doer. Doe sangue e me dê seu telefone”, exige Gessinger, com a romântica “Piano Bar”, de 1991.

Um ano mais tarde, Humberto compôs um de seus hinos mais apreciados pelos fãs, a débil, “Parabólica”. Como podemos conferir, é, de fato, uma preciosidade da música brasileira: “Prenda minha parabólica/ Princesinha clarabólica (...) olho-me para longe/ a distância não separabólica”.

“Segurança”, outro clássico dos Engenheiros, do primeiro disco da banda, repete exaustivamente o refrão “você precisa de alguém que te dê segurança, senão você dança, senão você dança” e vai além: “Ele era o tal, cheio de moral, fascinava você, tinha um Puma-GT com vidro fume. Tinha sauna no ap, só pra você ver (pode crer). Lutava karatê como nos filmes da TV”. Em seguida, mais um refrão “você precisa de alguém que te dê segurança, senão você dança, senão você dança”.

Com fervor, os versos esdrúxulos são repetidos aos quatro ventos, com a mesma verborragia tresloucada dos discretos pregadores da Praça Raposo Tavares, que aos sábados, não permitem que minhas singelas pestanejadas, em meu apartamento, desfrutem de tranqüilidade e paz.

“Pr’o alto da montanha, num arranha-céu. Sem final feliz ou infeliz... atores sem papel. No alto da montanha, à toa, ao léu”; “Eu abri meu coração como se fosse um motor e na hora de voltar sobravam peças pelo chão”; “Voando sem instrumentos, ao sabor do vento, se depender de mim eu vou até o fim”; “Surfando karmas e DNA na falta do que fazer, inventei a minha liberdade”; “Vamos duvidar de tudo o que é certo, vamos namorar à luz do pólo petroquímico”. É o Apocalipse.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Cristovão Tezza - entrevista



Com cerca de trinta livros publicados entre ficção, não ficção, participação em antologias e teatro, o premiado escritor catarinense, radicado em Curitiba, Cristovão Tezza, é um dos grandes nomes da literatura brasileira contemporânea.

No dia 5 de outubro, com a palestra “Minha vida de escritor”, em comemoração aos 40 anos do Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá, Tezza divulgou o seu novo romance “O filho eterno”, responsável por uma avalanche de elogios da crítica especializada como Veja, Folha de São Paulo, Bravo!,Entrelivros, Geneton Moraes Neto, entre outros, que aplaudiram efusivamente cada página de Tezza.

Após os excelentes “Trapo”, “Uma Noite em Curitiba”, “Aventuras provisórias” e “O fotógrafo”, o autor ainda nos presenteia com sua nova obra-prima. Em “O filho eterno”, Cristóvão Tezza abusa de fatos biográficos para romancear, com maestria, a sua relação com seu filho Felipe, portador de Síndrome de Down.
O que poderia virar facilmente uma história clichê e trivial, ainda nas primeiras páginas transforma-se em vertiginosas e intensas linhas que, pouco a pouco, expõe os execráveis e sórdidos sentimentos do pai, sempre com as boas doses de humor ácido que são características de Tezza.
“O filho eterno” é uma obra chocante, e está longe de ser um livro de amor. É o amor em forma de livro.
Muitíssimo bem humorado, Cristovão Tezza concedeu essa entrevista nos estúdios da Rádio Universitária Cesumar FM, horas antes da palestra.

Cristovão, o que é o filho eterno?

É o livro da minha vida no sentido biográfico e literário. É fortemente biográfico, porque é brutalmente baseado na minha vida pessoal. E no sentido literário, porque é o meu livro de maturidade. É diferente de todos os outros. É daqueles livros especiais, ficam à margem do conjunto de obra.

Você chegou a hesitar em escrever “O filho eterno”?

Eu hesitei mais de vinte anos! Eu soltei as amarras e o livro caminhou sozinho. Eu não me sentia escritor suficiente para enfrentar o tema, então, deixava de lado, até por ser uma questão pessoal e até por eu ser de Curitiba, uma cidade em que, você, só de aparecer, é uma vergonha (risos). Uma cidade tímida, fechada, enclausurada, que, aliás, eu acho ótimo. Os tímidos são perigosíssimos! Quando se expõem, parece uma coisa explosiva.

"Depois, quando eu reli o livro, eu pensava “pô, isso aqui está muito violento”, como se eu escrevesse meio em transe. Mas depois de pensar duas vezes, é porque estava violento, que estava bom."

Só assim faria sentido escrever, senão, era melhor não dizer nada.

Aquela briga no trânsito, em que o Felipe diz a primeira palavra, “puta”, aconteceu de verdade?

Aconteceu. Aquele é um dos fatos biográficos do livro. Eu fiz uma moldura ali, mas aconteceu. A briga no trânsito e o Felipe repetindo o palavrão que viu o pai dele gritar tão furiosamente lá fora (Risos). São aqueles momentos limites da vida em que você demora quinze minutos para cair a ficha e ver que você é capaz de fazer coisas absolutamente estúpidas, num estado emocional alterado, fora de si. E ali, juntava várias coisas, o pai e o filho. O pai, que é o grande personagem do livro, até porque o Felipe não tem voz, ele só é visto. E essa relação percorre o livro todo.

A Regina Carvalho escreveu que em “O filho eterno”, você conseguiu se livrar do cerebralismo excessivo, como se você, em todos os outros livros “temesse soltar as rédeas do sentimento”. Foi difícil soltar as rédeas?

Bom, digamos que seja verdade o que disse a minha amiga Regina (risos). Eu tenho assim, momentos cíclicos, momentos cerebrais. “Breve espaço de cor e sombra”, que é quase um jogo de xadrez; o “Suavidade do vento”, que também é um livro bastante frio, de certa forma; mas tenho outros muito emocionais. "Juliano Pavollini" e “Uma noite em Curitiba” são livros derramados, livros de paixão, sobre a paixão. “O fotógrafo”, eu acho, junta as duas coisas. São momentos da vida em que você tende mais para um lado, do que para outro. Mas “O filho eterno” não é um livro derramado. Ele só parece que é. Na verdade, tem uma reflexão racionalizante da primeira à última página do livro. É uma coisa muito forte. Ele está trabalhando sobre uma coisa que está pegando fogo. E isso deu a força do livro. Para mim, foi inesperado. Eu não esperava uma reação do público como teve.

Cristovão, quem foi que lhe disse em “O filho eterno”: “livros tão bons, tão interessantes! Mas os palavrões, que pena! Estragam tudo!”?


(risos) Muitos críticos falam disso aí!

"Eu já sofri processo por causa do ´Juliano Pavollini´, em Curitiba, que por várias vezes já foi adotado por professores e, de repente, um pai leu indignado e acionou a escola, porque tinha palavrões no livro (risos)!"

O pai dizia que o filho não podia ler aquilo. Reclamar de palavrão, no tempo da internet, é piada, né? Cinco minutos de internet e você vê tudo o que sequer imaginava (risos). A crítica, em “O fotógrafo”, reclamou muito dos palavrões.

Você reescreveu “Aventuras provisórias”. Como ficou na segunda edição?

Ele ficou mais enxuto do que era a edição original. Eu tirei umas dez páginas. Ali, era uma questão de estilo. Eu tinha saído do “Trapo”, um livro que eu domino o tipo de linguagem, o tipo de narrativa do professor Manoel, e parti para uma outra pegada literária. “Aventuras provisórias” tem uma certa influência da novela americana. Aquele narrador direto, objetivo, claro. Então, foi como se eu entrasse em um outro gênero. O livro foi até bem recebido, ganhou um premio, na época. Mas eu, relendo hoje, senti que eu não estava dominando. Era uma questão mais de mudar o registro da minha literatura, porque eu nunca quis ficar escrevendo a mesma coisa. Nos meus livros, cada um tem uma viagem diferente. Então, eu patinei um pouco na primeira edição do “Aventuras provisórias” e, agora, eu realmente acho que o livro está pronto. Nessas horas, eu dou razão para o Dalton Trevisan. Às vezes, olhando para trás, você pode ver que pode melhorar e entregar um produto melhor, um livro melhor.


A constante desmotivação para com o universo acadêmico em seus livros é um fato biográfico?

De certa forma sim. Eu estou sentindo que estou no fim do meu projeto acadêmico. E isso me levou algumas opções, como, por exemplo, não entrar no programa de pós - graduação, de ficar como “professor auleiro”, de trabalhar com graduação e tentar equilibrar o meu trabalho como ficcionista e o trabalho universitário, de sobrevivência. Eu sempre tentei negociar um lado e outro para sobrar tempo e condição de produzir literatura. Mas você vai ficando mais velho, não tem mais aquela energia de assobiar e chupar cana. Fazer teoria é uma coisa esgotante. Eu sei, porque a mina tese de doutorado consumiu quatro anos da minha vida. Eu não escrevi nenhuma página de ficção nesse período. Eu não sei se estou disposto a fazer esse mergulho de novo, à essa altura.

Tem algum assunto que você jamais vai escrever?

Todos aqueles sobre os quais eu não escrevi (risos). Eu acho que eu não tenho medo dos temas. O que eu tinha medo eu já enfrentei agora, com “O filho eterno”. Agora, eu estou escrevendo uns contos, estou indo para um outro lado literário, fazendo uma espécie de pausa antes do próximo romance.

"Conto, é uma coisa que eu escrevi muito pouco. Escrevi só um livro nos anos 60, 70. Hoje, sempre que entro em um sebo, eu recolho os livros que eu acho (gargalhadas)!"

Eu não tenho um controle total sobre o que eu escrevo. É sempre mais ou menos um tiro no escuro.

Qual foi a sua reação quando você soube que “Uma noite em Curitiba” era exigido pelo vestibular da UEM?

"A primeira reação que eu tive foi: ´Ih, vou ser odiado por vinte mil alunos agora! (gargalhadas) Eles vão ser obrigados a ler!´"

De vez em quando, eu recebo um email assim: “Senhor escritor, gostaria de receber o resumo do livro ´O fotógrafo´, que vai cair no vestibular”. Obviamente, eu não mando. Uma vez, eu respondi “escuta, que tal ler o livro tal”. Essa adoção é uma espécie de sinalização que a Universidade dá como referencia literária, mas poucos alunos lêem, de fato. E há todo um trabalho de cursinho que entrega aquilo tudo mastigado para o aluno, para a prova. Na internet, têm resumos de todos os meus livros, menos “O fotógrafo”.

Na minha sala de terceirão, você foi odiado por muita gente que leu, por obrigação, “Uma noite em Curitiba”.

Eu imagino (risos).

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

A cidade


Sempre gostei de fotografar os tipos urbanos. Passo a publicar aqui no blogue alguns cliques sobre esse que é o meu tema predileito.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Cometa Buarque

O encontro


Sete anos depois, ele voltou. O malandro esteve na praça outra vez. Sem “Construção”, “Cotidiano”, “Cálice”, “Geni e o zepelin”, “Olhos nos olhos”, “A banda”, “O meu guri”, “A Rita”, “Meu caro amigo”, “Apesar de você”, mas voltou.

Sucessos? Claro, teve “João e Maria”, “Quem te viu, Quem te vê”, “Eu te amo”, e uma série de outros sucessos classificados erroneamente como “Lado B”- sucessos não tão clássicos.

A turnê “Carioca” foi assim. Filas de até 12 horas para comprar ingressos, muita gente aos prantos por não conseguir adquiri-los, tumultos, reclamações sobre a organização, shows sempre lotados, público satisfeito, diversas invasões de palco, e em Brasília, contou até com o presidente Lula confortavelmente sentado na terceira fileira do teatro.

O show em Goiânia no dia 18 de maio marcou o encerramento da turnê. Um momento histórico, já que Chico fez apenas 4 turnês nos últimos 30 anos. Em Goiânia, Chico Buarque permaneceu em seu quarto de hotel durante todo o dia 17. Só saiu às 19:00 horas para ensaiar no Teatro Vermelho. Eu estava entre os seis fãs que passaram a tarde inteira para ter o encontro com o mestre.
Quando ele apareceu no hall do hotel 5 estrelas, fui ao seu encontro. “Chico, viajei 16 horas só pra te ver”. Após um segundo em silêncio – o mesmo “silêncio que a só um poeta se permite”, como ele mesmo escreveu em “Budapeste”- respondeu timidamente, com um humor fino e inteligente enquanto assinava meus dois livros: “Eu viajei só três.”

Após os autógrafos, foi cercado pelos outros fãs e não perdeu o bom humor. “Virei show da Xuxa”, respondeu ao jornal local.

"Dá um pulo e vai pra frente. De peixinho, vá pra trás."

Durante a derradeira apresentação, Chico estava completamente à vontade. Quem esperava um show frio, se surpreendeu com uma intervenção longa. Chico explicou que aquele era o último show do “Carioca”, que iria descansar um pouco, uma conversa que pegou todos nós desprevenidos.

Lá estava o mito, a lenda, a figura mais importante da música popular brasileira anunciando suas merecidas férias. Sorrindo à todo momento, respondia aos gritos de “lindo” com acenos tímidos, ligeiros. A timidez que lhe é famosa fica evidente a apresentação inteira.

Chico permaneceu completamente paralisado enquanto esteve em pé, cantando com seu violão. O único movimento que fez no palco foi sentar em um banquinho. Só. Até quando tocou kalimba, um instrumento africano, em “Morena de Angola”, permaneceu imóvel. Quando não está tocando violão, parece não saber o que fazer com as mãos e fica com elas assim, abertas uma de frente para a outra.

As primeiras três músicas, um pout-purri de “Voltei a cantar” (1939), de Lamartine Babo, seguida por “Mambembe” (1967), e “Dura na queda” (2006), marcam o início das metralhadoras de flashes disparadas pela platéia, e definem o show.

“Dura na queda” logo no início é a prova cabal de que as canções de “Carioca”, ao contrário do que dizem alguns críticos musicais e fãs, não perderam a qualidade, como é de se acontecer com alguns músicos sessentões e ainda mantém a mesma poesia e musicalidade da conturbada década de 70.
Os problemas sociais e o romantismo não foram excluídos das temáticas, como é o caso de “Ode aos ratos” e “Bolero Blues”. Na primeira, Chico usa os roedores para metaforizar os garotos de rua: “Rato de rua, irrequieta criatura. Tribo em frenética proliferação (...) Ó meu semelhante, filho de Deus, meu irmão”. Ao vivo, a canção ganhou um peso incrível, com bateria, percussão e violões mais altos do que o restante da apresentação.

Já a melancólica “Bolero Blues”, de melodia elaborada, composta pelo baixista Jorge Helder, ao vivo surpreendeu por apresentar um resultado tão bom quanto ao da gravação. A letra romântica em clima saudosista foi difícil de ter sido composta. É visível o amadurecimento de Chico como compositor nessa canção, em que apresenta uma poesia mais literária.

O momento de maior interação com o público não foi do futebol invisível jogado por Chico e o baterista Wilson das Neves. Mas sim, um erro de Chico. Durante a turnê inteira, confessou no meio dos shows não saber muito bem a letra de “As atrizes”. No último show de “Carioca”, ele se confundiu. Trocou uma estrofe pela última da canção. O que era para ser “Represente, presentemente muito pra mim”, ficou “Presentemente, represente muito pra mim”. O público, percebendo a confusão, aplaudiu incansavelmente. Ao término da canção, Chico fez uma longa intervenção e pediu desculpas por ter errado a letra. Alguém gritou “Você pode errar, Chico”. A resposta surgiu com mais sorrisos, aplausos e risadas “Posso, né? A música é minha”.



Uma lenda viva


Encantou com “Bye, Bye, Brasil”, música composta para trilha sonora e que nunca foi executada ao vivo. Emocionou com a clássica “Eu te amo”, responsável por arrancar lágrimas do teatro inteiro e de fazer uma senhora ao meu lado tremer como se estivesse sofrendo um ataque epilético. “Imagina”, composta em parceria com Tom Jobim, e gravada apenas em 2006, proporcionou um dueto delicioso entre Chico e a tecladista Bia Paes Leme.


Para castigar ainda mais todos os presentes, a canção ganhou compassos mais lentos, realçando ainda mais a intensa melodia jobimniana. E assim desfilaram entre aplausos “Mil perdões”, “Futuros Amantes”, “As vitrines”, “Ela é dançarina”, “Na carreira”, “A história de Lily Braun”, "Anos dourados", tudo simplesmente indescritível. Um show perfeito, uma banda perfeita. Após “Porque era ela, Porque era eu”, não resisti. Completamente emocionado, gritei “Bravo!”. Só percebi que tinha gritado alguns minutos depois.

E teve samba também. “Cantando no toró”, “Deixa a menina sambar”, “Sem compromisso”. Essas duas últimas canções marcaram o primeiro bis, em que a platéia aproveitou para sambar e os mais próximos alcançaram a frente do palco. Fiquei encostado no palco. Foi assustador. Os seguranças, desconfortáveis temendo uma invasão da multidão em frenesi, não sabiam o que fazer. “Quem te viu, quem te vê” e “João e Maria” fecharam o show.

A multidão aplaudia compulsivamente. Garotas, senhoras, senhores, garotos, todos em coro, apaixonadamente cantando os versos dessas duas canções como se fosse alguma espécie de hino sagrado. Todos implorando para que o mito ficasse apenas mais um instante no palco. Afinal, ninguém sabe daqui a quanto tempo, o cometa Buarque passará novamente por nós. Vai passar?