segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Infiel

Gosto de comer mulheres. Muito. Desde que minha ex - que fodia mal e tinha uma bunda mole - me meteu um pé na bunda, há uns meses atrás, não tenho do que me queixar. Maringá acolheu um órfão de braços – e pernas – abertos. Amém. Um notívago como eu, míope, exilado de academias, é a prova de que qualquer sujeito escroto pode comer bem nessa cidade.

Quando Caio me ligou no domingo passado, dizendo ter recebido um fora da namorada de quatro anos, tentei acalmá-lo. Caio, vamos pro bar. Vamos nessa, tenho que te contar daquela morena – uma estudante de educação física da UEM que eu havia conhecido e fudido na semana passada.

Chegamos no Democrático, na Zona Sete. Gosto de lá porque toca rock, AC/DC, Metallica, e o litrão é barato. Chegamos sozinhos. Na mesa da esquerda, duas morenas e uma loira bebiam Brahma: uma mesa de futuro.

Para você saber seu efeito sobre as mulheres de Maringá, basta notar os pés debaixo da mesa de plástico. Se começarem a bater logo após você sentar, meu amigo, sua noite está garantida. Notei que uma das garotas tinha um pescoço esbelto, que me lembrou os quadros de Modigliani – além de seios, coxas e decote. Mas eu não cheguei com essa cantada por dois motivos óbvios.

Se ela fosse inteligente – característica extremamente rara em mulheres maringaenses -, talvez ficasse ofendida. Você, me chamando de pescoçuda? Talvez. Mas, como essa garota certamente tinha um nível de estupidez considerável, não seria agradável chegar citando Modigliani. Ninguém quer ser um alienígena munido de pintores numa mesa de bar.

Por isso cheguei na mesa, sentei e disse algo sobre seu pescoço. Como é lindo o seu pescoço. Ela me olhou, assustada. Sei que ninguém nunca elogiou o seu pescoço. No máximo, continuei, você sabe que arrepia e esquenta na língua ou na barba mal feita, algum ex, atual, algum noivo, você não é casada e têm filhos?

Não tenho certeza. Faz tempo que parei de olhar aliança. Já me dei bem com uma casada, e não abordaria a mesa em que ela estava sentada, nem teria fodido ela atrás do Senac, numa rua deserta, se soubesse do seu comprometimento – mas isso eu não falei para a Modigliani.

Na verdade, ela gostou de ter, pela primeira vez na vida, seu pescoço elogiado por um estranho num bar de rock. E logo chamou o Caio para conversar na mesa também - afinal, o que fazer com as outras duas garotas?

O problema é que Caio não fala. Quieto, olha, acompanha, ri e, quando quer, dá o bote, astuto. Caio fala com silêncios. Perguntei, em seguida, no terceiro diálogo da noite, há quanto tempo ela não fudia.

Vermelha, rindo alto, loucamente, bateu os braços na mesa, apoiando os dois cotovelos: taí a resposta, há seis meses, eu disse. Ela ficou ainda mais vermelha, respondeu que era a coisa mais inconveniente que alguém já havia perguntado. Cortei aquela baboseira toda, perguntei se de quatro ou de lado. Ela me encarou. De quatro, claro. As amigas, que até então estavam em silêncio, também disseram suas posições favoritas. E abriram o jogo: Modigliani namorando sério há um ano e meio, e não via seu amado, que infelizmente mora em São Paulo, há cerca de seis meses. Em três perguntas, totalmente exposta.

Ficamos mais meia hora no bar. Fomos para o apartamento da morena – não lembro o nome -, na rua ao lado do Democrático. Caio pegou a garota, logo tocou para o quarto. Eu fui para a cozinha, preparei uma caipirinha, como quem não quer foder, como quem ignora o sexo: foi o bastante para ela ficar puta. Mulher, meu amigo, é extremamente competitiva. Me empurrou para o quarto, arranhou minhas costas, esqueceu de fechar a porta, deu de quatro, de lado, de quatro novamente, deu em pé, apoiada na cômoda, gritou com a janela aberta, gritou me fode, seu animal, me fode, seu escroto, nossa, meu Deus, nunca senti isso antes, que tesão, e eu já estava satisfeito.

Para encerrar o primeiro tempo, ela ainda me puxou, no momento em que eu ia gozar, e gritou dentro não! Goza aqui, na minha boca, seu canalha. Não é assim que o seu amigo te chama, canalha? Gozei primeiro em seu olho. Depois na testa. Em seguida no queixo, gozei nos lábios e no nariz dela. Pegando no meu pau, vencido na batalha dos justos, passou no rosto inteiro, batendo aos poucos, feliz, no sorriso aberto. Nunca fiz isso, ela me disse. Acho que te amo, Alexandre. Segurei a risada, claro. Ela foi para o banho, voltou de toalha, fudemos novamente, ela tomou banho, e dormiu.

Deixei o apartamento no meio da noite - nunca durmo com uma mulher na primeira noite. Antes, notei a foto do corno da Modigliani, pregado na parede do quarto num desses corações que servem de portarretrato. Um corno exemplar. De camiseta xadrez e bermuda. Um desses bombadões de academia. Deve ser publicitário.

Modigliani acordou solitária. Talvez, vá se masturbar durante algumas semanas lembrando a noite passada em que deu para um estranho fascinado em seu pescoço. Talvez ligue para o bombadão só à noite, não no almoço, como sempre faz, dizendo te amo, meu amor, sinto sua falta, me guardando só para você, aliás, quando você vem me visitar, hem? Maringá, túmulo dos infiéis.

sábado, 24 de setembro de 2011

Democrático

Se você pode pegar essa cadeira?
(sorrindo de corpete salto alto saia)
-quinta-feira quase meia-noite
Se você quiser a minha vida ela é sua
(sorrindo bêbado jeans camiseta)
-ala não fumante Democrático
Se você quiser o meu pau ele é seu
Enfia o meu pau na sua goela
Boca nariz ouvido
Mete meu pau dentro do seu umbigo
Entre os dedos dos pés esfrega a frieira
Nos seus olhos mamilos sobrancelhas
Por todo o sol tatuado nas costas
Primeiro no sofá da quitinete
Lambuzando sua barriga perna pescoço
Depois no quarto inquieto da Zona Sete
Duro no queixo testa joelho
Enquanto te rasgo aos poucos
A saia as entranhas o corpete
Bochecha sedenta me arranha
Alto grita goza

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Fode

Fode
(ela grita)
Como quem de uma lâmina
Se apossa trêmula
E no corte do sangue
Descobre o prazer da dor

Enfia
(ela grita)
Feito o sufoco em desespero
Que engole e cospe água
Sentindo a morte descer a goela
Em busca de um aceno

Mete
(ela grita)
Na corda forte amarrado
O pescoço
Ali mesmo no quintal
Não vai haver mais casa na árvore
Não no quintal onde ninguém ri

De quatro
(ela grita)
Vomitando no chão do banheiro feminino
Às quatro da manhã
Com a porta meio aberta
O fígado condenado que arde e arrepia
Não em mim

Mete
(ela grita)
Acidente no olhar do pai
Aos oito anos
Preso na ferragem ainda havia
Dentro do carro
Ainda havia

Goza
(ela grita)
Me recebe de joelhos satisfeita

Mais triste que um pombo

O escritor vive de migalhas
Ciscando espantos em ruas tumultuadas
Feito um pombo da praça Rocha Pombo

Entre putas pés vendedores de vassouras
-Olha a vassoura e alho!
O escritor se aventura
Exposto
Busca refúgio em pânico
Às vezes teme ser pisoteado
Atropelado quem sabe por um ciclista?
Na cabeça tomar a pedrada certeira da criança?

O escritor vive de migalhas alheias
Alheio ao que não constrange nem perturba
Um pouco só
Mais triste que um pombo da praça Rocha Pombo

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Oscar Fussato lança "Nihonjin" em Maringá

Oscar Fussato Nakasato, de 47 anos, colecionou derrotas em sua trajetória literária. Sem nada a perder, enviou os originais de seu primeiro romance, "Nihonjin", em 2007, para as doze principais editoras do País, como Companhia das Letras e Editora Record. Todas elas bateram a porta em sua cara. O escritor, nascido em Maringá, resistiu e manteve as esperanças em sua obra.
Em fevereiro deste ano, o livro foi anunciado como vencedor do Prêmio Benvirá, que contou com 1.932 inscrições. A obra foi contemplada com R$ 30 mil e foi publicada, finalmente, em maio, pelo selo de literatura da editora Saraiva. "Nunca abandonei o meu livro. Sempre acreditei que era uma boa obra", disse Nakassato, que lança seu livro nesta sexta-feira, às 19h, na Livrarias Curitiba, no shopping Catuaí.
Ele diz que nunca soube ao certo exatamente por que seu livro foi ignorado em uníssono pelas editoras. "Não sei bem o que aconteceu. As editoras são empresas. Acharam, talvez, que meu livro não tinha potencial de venda. Mas, na minha opinião, ele tem, sim", avalia.
Segundo a nota divulgada pela comissão organizadora, formada por José Luiz Goldfarb (curador do Prêmio Jabuti) e pelos autores Nelson de Oliveira e Ana Maria Martins, o resultado do prêmio foi unânime.
"Esse romance é, antes de tudo, uma competente reconstrução histórica da imigração japonesa, tema pouco presente em nossa literatura. Sua força literária está não apenas na linguagem direta e sem firulas, nos personagens e nos conflitos marcantes, mas também no poder de comover o leitor", elogiou a comissão.
Doutorado
A ideia de escrever "Nihonjin" surgiu em 2002, quando Oscar terminava sua tese de doutorado em literatura brasileira. No trabalho acadêmico, o pesquisador traçou um panorama de todos os livros de ficção da literatura brasileira que abordavam a questão do mito e resolveu explorar o tema em seu próprio romance.
Narrado em primeira pessoa, "Nihonjin" mostra o painel da imigração japonesa no Brasil, por meio do personagem Hideo Inabata, japonês orgulhoso de sua pátria, que vem ao Brasil na segunda metade do século 20 e enfrenta grandes dificuldades para se adaptar ao "País do Futuro", como definiu o escritor austríaco Stefan Zweig.
No enredo, Hideo se arrepende da dura postura adotada em relação aos seus filhos. O filho assumiu o sentimento brasileiro e morreu após a Segunda Guerra, enquanto a filha trocou um marido japonês por um brasileiro.
A história começa na segunda década do século 20 e termina na década de 1980. Para romancear o cenário nipo-brasileiro, Oscar, que é descendente de japoneses, utilizou livros de história, sociologia e antropologia para embasar seu enredo, como "Estruturas Familiares e Mobilidades Sociais: Estudos Sobre Japoneses para São Paulo", escrito pela socióloga Ruth Cardoso.
Na organização do livro, os capítulos ganharam uma força própria e podem ser lidos como se fossem espécies de contos. "Na história, uso muitas lembranças, mas não chega a ser um livro autobiográfico", comenta.
Leitor de José Saramago, Machado de Assis, Guimarães Rosa e Clarice Lispector, Oscar acompanha a produção literária do País. Ele lê o paranaense Cristovão Tezza, o amazonense Milton Hatoum e acompanha os romances de Chico Buarque. "‘Leite Derramado’ é o melhor livro do Chico. ‘Estorvo’ e ‘Budapeste’ também são bons. Dele, só não li ‘Benjamin.’"
"Falta renovação"
Para Nakasato, o cenário da literatura brasileira, no entanto, é previsível e clichê. "Falta uma renovação entre os autores brasileiros. Apenas alguns nomes se destacam e aí permanecem eternamente. Os prêmios literários são recebidos apenas por quem já tem nome, como o Tezza, o Hatoum e o Chico. Precisamos de novos nomes", proclama.
Nascido em Maringá, Oscar cursou Direito na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e, após dois anos debruçado sobre leis, códigos, direitos e deveres, debandou para o curso de Letras, onde concluiu a graduação e pôde mergulhar na sua paixão. "Na UEM, com as aulas da professora Alice Penteado, eu entrei na literatura de um modo geral", recorda.
Sempre professor
Oscar ministra aulas na Universidade Tecnologia Federal do Paraná, em Apucarana. Ele leciona aulas de Língua Portuguesa e Literatura para o Ensino Médio e, nos cursos superiores de Engenharia, Tecnologia e Licenciatura, se dedica às disciplinas de Produção de Texto e Comunicação Linguística. Com os jovens de 18 e 19 anos, o escritor de Apucarana se sente mais à vontade. Até mesmo porque, ele pode discorrer sobre literatura.
"Eu nunca vou deixar de ser professor. É o que mais gosto de fazer. Não sou um escritor que dá aulas para ganhar dinheiro. Sou um professor que escreve", define-se.
Local: Livrarias Curitiba, no shopping Catuaí.
Horário: 9 de setembro, às 19h.