segunda-feira, 30 de março de 2015

Sopa de cogumelos para suecas e beatas

Sob um sol endiabrado, motoristas disputam as últimas sombras do estádio Willie Davids. Tem buzinada, gestos obscenos e um e outro palavrão. Às 16h45, quase todas as árvores já foram tomadas. De um dos carros, uma senhorinha de uns 70 anos desce afobada. Ligeirinha e serelepe, ela aperta o passo no chinelinho de dedo – correria rumo ao último concerto de Peppino di Capri? Que nada. Às quartas, nem o romantismo afrancesado do intérprete de "Champagne" causaria tanta correria. A atração, ali, são os charques, frutas, cogumelos, verduras e linguicinhas da Feira do Produtor.

Há duas décadas, a aposentada Neuza Zanutto, 75, faz suas compras à beira do estádio, religiosamente às quartas. Ela sempre chega antes das 16h e vai escolhendo, tranquilamente, os pés de alface e rúcula, as frutas, o cudiguim para o filho que mora em Minas, entre outras maravilhas. As compras ficam reservadas, com o nome dela na sacola. Uma hora depois, quando realmente começa a feira, é só passar pelas bancas, pagar a conta e levar tudo embora. Suada e empurrando um carrinho cheio de compras, Neuza, mesmo chegando cedo, teve problemas para conseguir estacionar o carro. "Foi um caos, viu? Passei um stress terrível. E ainda tinha um caminhão, desses de mudança, atrapalhando tudo." Mas a aventura vale a pena. "Acredita que já levei caixas desse tamanhão, ó, de goiabas lá para Uberlândia? Três quilos de goiabas para fazer o meu mousse. Em Minas, você não encontra goiabas assim de jeito nenhum", comenta. Outro madrugador, o empresário Téo Zanin, 52, também faz questão de chegar uma hora antes do início da feira. "Assim, pego os produtos mais fresquinhos. O cogumelo que eu compro aqui chega a durar 15 dias. Se eu compro nos outros lugares, o mesmo cogumelo apodrece em 48 horas", compara.

Entre a mortadela de porco, batata em conserva, bacon e mudas de manjericão, milionários excêntricos e gente do povão seguem circulando entre as barracas. Algumas pessoas, pouco se lixando com o sol, desafiam seus próprios limites em busca dos cobiçados acepipes. A sexagenária mancando, apoiada numa bengala, carrega duas sacolas cheias de milhos e verduras. Ela está suando e parece fazer um esforço tremendo para caminhar – a feira não é sua via cruscis?

Gay é normal?

No meio de tanta gente, uma amável senhora, com uma prancheta em mãos, vai abordando casais, adultos e idosos. Parece um abaixo-assinado, algo do tipo. Vou me aproximando. Toda elegante, num vestidinho azul, saltinho branquinho e óculos dourados, a senhorinha loirinha conversa um pouco, justifica o motivo da arrecadação de assinaturas e muitas pessoas vão rabiscando seus nomes no papel. Deve ser algo realmente muito bom. Reivindicaria, a doce senhora, a tão esperada reforma política? Tentaria organizar um concerto de Toto Cutugno, com orquestra e entrada grátis, no estádio Willie Davids? Finalmente, eu me aproximo."O senhor gostaria de assinar um abaixo-assinado contra o casamento gay?", pergunta, toda delicadinha e com sorrisinho convidativo, estendendo a prancheta e uma caneta. Quando descobre que eu sou jornalista, a senhora de 60 e poucos anos muda radicalmente sua postura.

"Eu não quero que você escreva uma linha sequer sobre isso, ouviu bem?!", ameaçou, firmemente, a vozona grave e soturna – em seus olhos não brilhavam as chamas furiosas da sarça ardente? "Estou lutando pela minha Igreja Católica! Se o senhor tem filhos, deve me entender. O casamento gay é um erro e eu vou entregar esse abaixo-assinado ao Papa!", bradou, impávida e colossal. Claro que não meti meu nome naquele bolo. Mas a coleta de assinaturas dela é um baita sucesso.

"Casamento gay não é normal, isso não está certo", acredita uma funcionária pública que assinou o manifesto. Aparentando ter uns 50 e poucos anos, ela confessa ser noveleira de carteirinha e diz que está revoltada com a exibição do casal homoafetivo, interpretado por Fernanda Montenegro e Natalia Timberg. "Eu boicotei a novela. Aquilo é nojento demais." Uma técnica em biblioteconomia, de 35 anos, também foi abordada pela engajada senhora e meteu o nome na lista. "Não tenho nada contra os gays. Só assinei mesmo para não entrar em conflito com ela."

Benditas suecas

Quando vai escurecendo, a feira ganha contornos mais sensuais. Encostadinha no muro, uma loirinha transcendental refestela-se com pastel de queijo e sodinha bem gelada. Shortinho jeans, blusinha branca, boquinha pintadinha de vermelho – ai, essas mocinhas de lábios vermelhos. Não tem ela os ombros altos de Liv Ullmann? As coxas portentosas de Anita Björk? Nos olhos, a mesma melancolia de Ingrid Thulin? Quem não daria tudo para ouvir os pensamentos da nossa sueca bergmaniana? A cena é de despertar o apetite, e eu, glutão sem paradigmas, também peço um pastel de queijo com sodinha. Do outro lado da barraca, outra sueca cinematográfica: vestidinho curtinho, olhos verdinhos, uma pintinha bem acima dos lábios. Naquela orelhinha, você não sussurra os versinhos proibidos do danado Bocage? Não entoa, suave, a "Tristesse", do Chopin? Feche os olhos: veja as grinaldas de Hera!, os ramos de videira!, as margens do rio Hebro! Saciadas, as duas mênadas da barraca do pastel encerram suas respectivas contas e, cada uma para um lado, partem para o cortejo báquico, ao som dos tamborins dos coribantes. Quem, ali, não ofereceria bodes, coelhos e pássaros corvídeos à passagem das duas deusas? "Batei palmas, todos os povos" – não é esse o precioso ensinamento do Salmo 47?

Aplaudindo as doces suecas, deixo a barraca de pastel. Passo pelo cego cantador. Ele entoa alguma coisa sobre Deus, uma moda religiosa. Tenho pena do José do Bonfim que não pôde contemplar as duas loirinhas. Seu violão tem um som relativamente bom e sua voz não é afetada por empostações alopradas: o canto de Bonfim, essencialmente triste, é de uma naturalidade tocante. Famoso na cidade, o nosso artista não limita sua agenda de shows às performances gratuitas na Feira do Produtor. "Faço muitos shows em aniversários e lanchonetes", conta.

Bonfim começou a perder a visão aos 11 anos e ficou completamente cego aos 23. Chegou a fazer diversos tratamentos, mas não teve jeito. A retinose pigmentar escureceu sua rotina. Às quartas de feira, ele canta por quatro horas seguidas. Única ajuda, debaixo do banquinho, a garrafinha de água refresca as cordas vocais. Com 59 anos, ele já lançou três CDs, disponíveis a R$ 10: "Jornada Escura", "Sentimento de um Cego" e "Os Pé Vermelho". No intervalo das canções, Bonfim volta e meia passa a mão na cumbuca à sua frente – esperto aos larápios sacanas. "Nunca vi alguém me roubando", garante Bonfim, balançando a cumbuca. Peço que ele cante alguma música própria. E Bonfim começa a executar "Jornada Escura", um épico autobiográfico que aborda a sua trajetória e a de sua família: "Tenho meus filhos lindos / Sei, por ouvir dizer", ele vai cantando.

Deixo o cego cantador. Vou andando. Passo pelos cogumelos resistentes, os tais cogumelos que duram até 15 dias. As pessoas se encontram, dão longos abraços, alguns até arriscam uns flertes mais atrevidos – ou será um maldito cisco? É na feira que as pessoas se informam. Quem nasce, quem morre, quem não está bem das pernas:

"E a sua vó, Carlos, como tá?"

"Ela foi pro hospital. Pegou uma virose."

"De novo?"

"A virose tá feia. Tava todo mundo preocupado que fosse dengue."

"Ai, não acredito. Que dó."

"Tá com risco de hemorragia."

"Minha nossa! E o Antônio?"

"Ah, eu não te contei? Parece que é suspeita de AVC."

"Ai, não. Ele tava tão bem."

"É... a bruxa tá solta por aí."

Últimos românticos?

"Coloque aí que subiu a alface, o milho verde e a abobrinha", comenta o aposentado Luiz Carlos Ruiz, 65, forçando a vista para ver direito meu nome e a foto no crachá. "É a crise: sempre percebo quando os preços sobem. Venho aqui há 20 anos.". A poucos metros dali, na loja de rosas, com flores vermelhas, amarelas e brancas, oferecidas a partir de R$ 1, o casal de japoneses lamenta a queda nas vendas. "Ninguém quer ser romântico com a crise: o pessoal quer é comer, né?", observa Catarina Saito, que trabalha na feira desde 1997.

Deixo a crise de lado e sigo. A índia kaingang, de 19 anos, com um bebê de 3 meses no colo, já desistiu de vender seus balaios coloridos. Volta e meia dá um grito para que seu outro filho maior, de 3 anos, tome cuidado com a rua. Estão todos sujos de terra e cansados. Passo pelo sashimi, pela barraca da banana, pelo caldo de cana e vejo uma mulatinha comprando uma porçãozinha de tilápia no copo (R$ 5). Olhinhos castanhos, roupinha de ginástica, lábios carnudos e um crucifixo douradinho no peito – ó bendito Jesus Cristinho! Nas orelhinhas, mais sinais de devoção: duas pequenas cruzes prateadas brilhando no escuro. Mordiscando um e outro naco de tilápia, a mulatinha vai desfilando entre as barracas - ó mirra mais preciosa!, ó torre de Davi!, ó piscinas de Hesebon!, ó azeite de oliveira puríssimo! Quem consegue se concentrar nas compras, perambulando nesse imenso jardim de delícias? Batei palmas, batei palmas!!

Publicado no Diário (29/3/2015)

segunda-feira, 23 de março de 2015

Raposas e Raposos da Praça Tavares

 No coração da cidade, a Raposo Tavares é palco de comédias e tragédias do cotidiano de Maringá, peças reais que se repetem dia após dia, noite após noite.

Veja a praça: dezenas de pombas obesas. Meretrizes sexagenárias. Papel de bala, bolacha e chiclete no meio do chão. Um sujeito, nem gordo nem magro, corre com a maleta preta debaixo do braço. Garrafa plástica, lata de cerveja e panfletos com preços promocionais de uma loja de departamento. Uma ruiva que parece ter saído do "Friso de Beethoven", do Klimt, desfila com passos firmes e ligeiros. Barulhos de buzinas, carros importados, carros populares, alguém pede vinte e cinco centavos. "Só vinte e cinco centavos, porque eu tô pedindo, não tô roubando ninguém, não sou criminosa, alguém tem vinte e cinco centavos?" Cinco usuários/traficantes de crack ("craquentos", "noiados", "nóias", "chapados"), próximos a uma banca de revista, conversam sobre qualquer coisa. Cada pivete exibe um celular moderno. Desses com potentes câmeras fotográficas, ideais para o selfie coletivo, certamente com acesso à internet. Os cinco pivetes têm celulares mais modernos que o meu.

Caminhar pela Praça Raposo Tavares, às onze horas da manhã, é perambular por um cenário inquieto. Resolvo sentar. Não chove nem faz sol. Escolho um lugar próximo a um dos pontos de ônibus. Sob o busto do compositor Joubert de Carvalho, duas senhoras cinquentonas conversam alegrinhas:

"Aí um dia, esperando o ônibus, encontrei ela exatamente aqui. Sabe o que ela me disse? 'Nilce, jamais pensei em te encontrar aqui!'. Depois de tanto tempo. Imagina?!"

"E ela, continua gorda?"

"Tá quase explodindo. Engordou ainda mais."

"Jesus Cristo."

"Tenho pena do João. Porque ela é gorda, gorda, gorda..."

"Precisa de operação?"

"...e ele é um pedaço de mau caminho."

"Acha que precisa operar?"

"Não sei. Precisou de tempo para subir no ônibus. Gorda é lenta. Eu entrei rapidinho e sentei no fundo do ônibus, bem longe dela."

"E ela?"

"Nunca mais olhou na minha cara."

Se o busto de Joubert de Carvalho falasse, o mundo não seria mais o mesmo. Casamentos seriam desfeitos. Megaempresários iriam à bancarrota. Primeiros-ministros seriam caçados e certamente Kim Jong-il sofreria um impeachment. Num banco da praça, você é um voyeur, vampirizando as senhoras, moleques, empresários e mendigos.

"Ela é uma safada. Tá grávida do Miguel, não dele."

"Meu Deus. Do Miguel?!"

"Sempre foi safada."

"Eu podia tá matando."

"Eu não tô aguentando mais isso."

"Esse seu pai é um vagabundo."

"Quase perdi a perna."

"Sabe me dizer que horas são?"

"Nunca mais ando de moto, agora só de carro."

"Eu sei que ele é safado. Todo mundo sabe."

"E a polícia, já fez alguma coisa?"

"Alguém me dá vinte e cinco centavos?"

"Bang Bang"

No meio da gritaria, há quem se retire para viajar. Num banco da praça, o pedreiro Josué Reina, 46 anos, estava metido no meio de um violento tiroteio, entre xerifes, garimpeiros, caçadores de recompensa e pistoleiros durões. O barulho nada incomodava sua concentração. "Ler é uma viagem. Parece que eu estou no lugar do personagem. Quando não tô trabalhando, leio dois livros por dia. Os de 'Bang Bang' são meus prediletos", comenta o pedreiro, empunhando o livro "Um Duelo por Dia". Em suas viagens, ele gasta só R$ 2. "Compro tudo ali, na banca de revista."

Com a fome batendo, muitos vão se regalando num dos cachorrões ali perto. O carrinho do Donny Lanches, há quatorze anos no mesmo ponto, de frente para a Avenida Brasil, chega a vender 80 cachorrões, diariamente, de segunda a sábado. O preço é camarada: de R$ 5 (simples, com uma salsicha) a R$ 9 (frango com bacon). "Todo mundo diz que temos o melhor cachorrão da cidade", gaba-se a vendedora Cláudia Bonfim. Ela gosta da praça, gosta de trabalhar ali.Mas nem tudo é perfeito. "Meu único problema é a noite. Quando escurece, aqui não é nada seguro", reclama.

Anã e verruga

Às cinco da tarde, a praça é melancolicamente erótica. A anã, negra, oferece as perninhas magricelas e as mãozinhas miúdas: naqueles noventa e poucos centímetros de perdição, quantos não se perderam a caminho de casa? Sentada no banquinho, lançando olhares maliciosos, uma prostituta sexagenária veste blusona vermelha, chinelão de dedo e saiona jeans. No sorrisão da doce senhora, o que seduz mais? O dentão amarelo e a verrugona na bochecha esquerda, ou as pernonas infestadas de longas varizes azuis? O amor, na praça Raposo Tavares, tem mil e um motivos.

De vinte aninhos, a loira de saltinho vermelho e vestidinho verde caminha em câmera lenta pela praça. Tem as unhas pintadinhas de vermelho – como é bom mulher pintada de vermelho. Traz na mão, certamente mãos perfumadas e banhadas em fragrâncias francesas, uma pasta cheia de papéis, talvez partituras, sim, várias partituras de Bach, partituras dos "Concertos de Brandenburgo" que ela executará ao cello, assim que chegar ao seu apartamento, uma república que ela divide com outras duas estudantes de música, na Zona 7. E mal a moça do vestidinho verde desaparece pela Avenida Brasil, a morena com roupas de ginástica (como é bom mulher com roupa de ginástica) assume a cena: lábios carnudos, olhos castanhos, cabelos encaracolados, cada centímetro do corpo destacado nas roupinhas apertadas. Catatônico, você contempla a tudo embasbacado. Pouco importam as loiras de Renoir, a ruiva do Klimt, os peitos de Delacroix: há mais obras-primas circulando pela praça Raposo Tavares que expostas nas paredes do Louvre.

Lá pelas seis horas, a melancolia erótica é substituída por passos acelerados. Funcionários engravatados, estudantes, senhoras e senhores se apressam a caminho do terminal – jamais perder o último ônibus.

Vai um abacaxi?

"Três por dez e cinco por quinze. Três por dez e cinco por quinze", grita Junior, ao lado de um carro cheio de abacaxis. Ele não costuma fazer ponto na praça. "A fiscalização bate sempre por aqui. Tem que ficar esperto". Com o dia terminando, a última chance para faturar nas vendas. Nos bons tempos, ele vende R$ 800 em abacaxis. Aquela quinta, porém, ele considera um "fiasco". "Só vendi R$ 500. A crise tá fogo, viu?", lamenta. Com medo dos boatos de uma medida radical do governo, Junior retirou suas economias de dois bancos diferentes e está à espera do pior. "Meu pai me aconselhou a tirar o pouquinho que economizei. Na época do Collor, ele perdeu tudo o que tinha. Não quero que isso se repita com a gente."

A poucos metros dos abacaxis, um pai e duas crianças batem bola no meio da praça. O mais velho tem 10 anos; o mais jovem, 2. Os garotos chutam a bola longe à beça, é preciso correr de um lado para outro. Com a respiração ofegante e a bola em mãos, o menino mais velho diz que adora brincar na praça. Mesmo com apenas 10 anos, ele tem consciência que o local precisa ser melhorado. "É sujo, né? Eu queria um parquinho, aqui. Com playground, balanço, escorregador e espaço com areia e um campinho de futebol."

A mulher volta a gritar por vinte e cinco centavos. Três garotos de traços indígenas, com menos de dez anos de idade, conversam entre si, agachados e concentrados, num dos bancos da praça. O trio divide, igualmente, as tantas moedinhas arrecadadas de esmola durante a jornada de trabalho. Ao lado, pombas obesas ciscam o chão riscado.

Bafão de pinga

Às nove horas da noite, a praça não tem o erotismo das cinco da tarde nem a correria do meio-dia ou do fim de tarde. Alguns rostos cansados caminham, espertos aos traficantes e viciados, rumo aos últimos ônibus. Sob o efeito do crack, jovens magrelos perambulam de lá para cá: ninguém mexe com eles nem eles mexem com os transeuntes. Com bafão de pinga e olhão vidrado, uma garota de uns trinta anos, magrela e negra, toda tatuada, entra na banca de revista. Ela tem um celular caro pra danar. Compra quatro cigarros avulsos por R$ 1 e guarda o troco num bolso na cintura, junto com o punhado de pedras de crack.

"Eles compram cigarros o dia inteiro. É pra rebater com a droga, né?", explica Wilson Tazima, proprietário da banca de revistas. Ele diz que a convivência com os viciados e traficantes, ali, é tranquila. "Quem é perigoso, mesmo, são os bandidos de outros bairros. Eles vêm para cá e assaltam sem dó", comenta.

Polícia natalina

"Tá vendo como à noite é tudo quieto? Isso é bom para os bandidos", reclama Rosely Martins, 36, que trabalha como caixa numa farmácia, de frente para a praça. Há mais de dez anos no local, a farmácia teve que mudar o horário de funcionamento por causa dos assaltos. "Passamos a fechar uma hora mais cedo, às nove. Tivemos que nos adaptar. O pessoal usa droga e dá nisso: violência. Para piorar, você tá vendo, agora, algum policial nas ruas, ó? A polícia só aparece quando é final de ano", diz a moça, olhando para a praça.

Quando escurece, a praça é só silêncio. De museu a "Bang Bang", de viciados a prostitutas decadentes, de crianças a vendedores de abacaxis, a Raposo Tavares é palco das mil e uma histórias da comédia humana maringaense.

Publicado no jornal O Diário (23/3/15)