quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Agacha e Engole

Depois do cinema me levou pra casa dele.
Descemos perto do Prever ali na Vila Marumby.
Ele sem nenhuma palavra.
Tava agitado.
Manolo?
E nada.
Mal fechou a porta deixou a chave na mesinha.
Acho que tremia.
Agacha e engole.
O quê?
Agacha e engole.
Ham?
Os dedinhos gordinhos abaixando a bermuda florida no meio da sala.
O troço dele ali durinho durinho durinho.
Na hora ri um montão.
Agacha e engole!
Isso?
Rindo apontando já com dor no estômago.
Sua tonta!
Nenhum tapete no chão.
Eu de vestido florido.
Não sabia que era assim:
Todo tortinho pro lado direito.
O troço.
Ele começa reto.
No meio também é reto.
Mas depois vira tudo pra direita sabe?
Tudo muito estranho.
De uma só vez coloquei inteiro na boca.
Ai meu santo Deus quase vomitei!
Sabe esse sininho na garganta aqui no fundo?
Senti o troço do Manolo batendo nele bem forte.
Tossi tossi tossi.
-mas não gorfei.
Impaciente ele não tava gostando é nada.
Sua tonta!
Tentei devagarinho.
Lembrei da minha irmã mais velha contando pra amiga:
Tipo chupar sorvete Maria.
Que sorvete nada!
Aquilo nem gosto de doce tinha.
É o amargo mais horrível tipo peixe fedido encardido sabe?
E tem que esconder o dente que se morder dói.
O do Manolo doeu tanto que ele me afastou na hora.
Mas o pior mesmo é depois.
A coisa.
A meleca.
Aquela gosma branca.
-meio amarela.
Um nojo um nojo um nojo só.
Ninguém sabe quando ela vem.
Pelo menos o Manolo não soube ou não me avisou o panaca.
Assim rápido sem alerta alarme sirene.
Nada.
Vai vai hum vai hum vai!
Não dá pra fechar o olho não.
Eu tava preocupada já.
Tantos vai vai hum vai vai hum.
Vou onde com o troço na boca Jesus?
Quando fui ver já tava em mim.
Toda lambuzada no rosto.
Minha prova de amor?
Levantei.
Os joelhos vermelhos vermelhos.
Abracei o Manolo e pedi um beijo.
Sua tonta!
Assim mesmo me afastou com cara de nojo.
Ele com nojo da coisa dele.
Pode uma coisa dessa?
Subiu a bermudinha florida.
Os dedos gordinhos tremendo.
Rápido sua tonta.
Fui pro banheiro e me lavei.
Como é difícil tirar aquilo do rosto.
Pior que chiclete.
Enroscou no cabelo não saia de jeito nenhum.
Só com sabonete mesmo.
Limpinha pedi outro beijo.
Eu te amo Manolo!
Me beijou rápido na bochecha com cara estranha.
Nunca mais quis sair comigo.
No colégio me excluiu.
Não ligou de volta.
Cuidado com esses garotos de Maringá amiga.
Cidade cheia de tarado.
Sei que gosta dele de verdade.
No primeiro momento sozinha pode esperar.
Fugir da situação rir fingir desmaio morte morrida?
Ligar para quem socorrer resgatar?
Seja adulta.
Na hora mesmo tira o troço da sua frente.
Mira a coisa lá pro outro lado.
Esquece o beijo no final faz só o que ele mandar.
Sem dar risada vá em frente agacha e engole tudo de uma vez.
Depois me diz se o dele também é tortinho pro lado direito.

Declaração

Põe a mão aqui.
Por cima mesmo.
Isso.
Aperta bem.
Assim.
Tá sentindo?
Como é grande meu amor por você?

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Décimo andar

Algumas coisas na vida perderam o sentido
Minhas orgias solitárias nas tardes de segunda
Batendo em louvor ao seu corpo ainda frio

Algumas coisas na vida perderam o sentido
Vagar pelas ruas feito um personagem de Noll
E na escuridão foder um desconhecido

Das poucas coisas que ainda fazem sentido
-não a literatura: a literatura engana sufoca enlouquece
Nunca fui apresentado cordialmente a nenhuma delas
-sinto muito
Nem elas me deram um aceno um abraço um beijo fraterno

Há poucas coisas na vida que ainda fazem sentido
E eu tento acreditar nisso a todo custo
É o que me impede de pular agora do seu apartamento