segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Por quê?

Doce às vezes caramelo com hortelã
Do amargo do tomate seco uma lembrança
Menos acentuada que o azedo do maracujá doce
Se passo a língua
- e não é o mistério a preliminar favorita?
Nunca sei o que encontrar
Muda de dia com o humor
Triste tão singelo calado
Alegre meio amarelo
Na semana sente minha falta
Sem quem regue com carinho
Primeiro a língua caminha apreensiva
Pequenos círculos
Lenta sente na ponta quando treme
Desbravando molha com força
Tira e enfia
Te pega no susto encharca de desejo
Você pede
Mete!
Mas não
Ainda não
De costas te viro puxo o cabelo
Uma ou outra sacanagem
(antes meu amor)
Mão cheia um tapa ardido na sua bunda
De quatro
-mando
Você me recebe quente
Arrepia a coxa afogada em suspiros
Seus pelos
Não sabia que tão bom
-você grita
O salgado da cachaça
Esse cheiro de amora no café fresco
Por isso Luana gosto tanto de lamber seu cu

domingo, 2 de outubro de 2011

Borboletas cavalos

Nojo deles tenho sim
Sujos da sujeira da alma
Sabe?
Borboletando de asinhas loucas
Em cada esquina de Maringá
Atrevidos não é que mandam beijos piscadinhas
-enquanto os dedos apertam os seios?
Pra quem reclamar?
IBAMA?
ONU?
Obama?
U.S.A.?
Cavalos de quase dois metros
Metidos em decotes
Metidos em vestidos
Na voz a última lembrança de um machão distante
Meio assim estridente
Fanhosa
Negando a natureza
Nojo deles tenho sim
Que não é na sua loja da avenida Brasil
Todo dia provando salto alto sandália
-bem na hora de fechar
Aquela coisa
Que se esconde de vergonha
Se não tem dinheiro pra tirar
Nunca toquei num dedo de pé jamais daquilo
Aberração
Cuspo no banheiro a saliva sem um volte sempre
Comemoro quando escuto no Pinga Fogo
Quem corta na madrugada as loucas asinhas das borboletas
Com barra de ferro extintor de incêndio ou martelo
No mínimo um mês de repouso no hospital
Sem voltar pra loja e provar salto alto sandália

Crítica da Semana Literária do Sesc de Maringá

Quando o Sesc divulgou a programação da Semana Literária, em junho deste ano, surpreendeu os amantes de literatura em Maringá.

Sete dias intensos com direito a Milton Hatoum, o maior romancista brasileiro vivo, além de mesas com Fabrício Carpinejar, Alice Ruiz e Affonso Romano de Sant’Anna. Baixa, apenas uma: o gaúcho João Gilberto Noll, autor de "Hotel Atlântico", cancelou sua participação na Semana por motivos pessoais.

O público não decepcionou. Marcou presença nas conversas com os autores, que duraram em média 2h. No encontro de Carpinejar com Alice Ruiz, o público se engalfinhou para ouvir a conversa . Mais de duzentas pessoas sentadas - algumas em pé -, davam a ideia de que, talvez, seja a hora de buscar um espaço maior para os próximos debates literários.

Cada mesa redonda contou com um mediador diferente. Isso enriqueceu as conversas. Em diversos momentos, os diálogos foram produtivos. Hatoum, por exemplo, reconheceu a ausência de humor em suas obras, como "Dois Irmãos" e "Cinzas do Norte". "Acho que é porque escrevo meus romances explorando a memória. Não há humor nos meus livros", disse. O escritor respondeu sobre a relação entre literatura e política em sua obra, falou sobre seu fazer literário, anunciou romance inédito, "O Lugar mais Sombrio", e disparou: "Não tenho medo do fracasso".

Quem imaginava um autor sisudo, surpreendeu-se com o bom humor. Criticou o lixo musical norte-americano. "Não dá mais para ouvir boas músicas no rádio". "Lady quem?", respondeu o autor a uma pergunta sobre aquela cantora que se veste de bife.
Nas conversas de Affonso Romano de Sant’Anna, Fabrício Carpinejar e Alice Ruiz, o papo firme rendeu bons momentos, também, com direito a bom humor. Carpinejar, como sempre, metralhou o diálogo com pequenas sutilezas poéticas, paridas ali mesmo, na conversa. E Alice Ruiz, que fica incomodada em responder sobre o seu Paulo Leminski, teve de trazê-lo à tona, indagada por seus leitores.
Tudo acabava na mesa do bar. Público, novos e consagrados escritores em meio a tilápias, cervejas, cachaças e vinhos: a literatura é mais visceral - ou líquida? - na mesa do bar. As perguntas, que haviam sido evitadas em público, ganham respostas inesperadas. E fica, ali, combinado um próximo encontro para o ano que vem.
Ao contrário do ano passado, a Semana Literária do Sesc focou no público adulto, incluiu novos escritores na programação e acertou em cheio: praticamente cinco dias perfeitos.
No entanto, algumas coisas ainda estavam desencontradas. A palestra "Marketing Emocional e a Relação de Consumo", ministrada pela escritora Ivana Martins, soava como uma nota errada num recital de piano: literatura para escanteio.
Altos e baixos
No lançamento do jornalista Wilame Prado, o público deu o ar da graça: mais de cem pessoas e sessenta livros vendidos. Uma marca excelente para um autor estreante.
Para o próximo ano, o Sesc tem a missão de fazer uma Semana ainda mais intensa. Entre os autores brasileiros, bem que poderiam convocar o imortal João Ubaldo Ribeiro, autor de "Sargento Getúlio" e "Viva o Povo Brasileiro". Seria tão antológico como foi receber o amazonense Milton Hatoum. Chama que ele vem.
Outro nome que vem fácil, e acrescentaria ao debate literário, é o quadrinista Lourenço Mutarelli, responsável pelo "O Cheiro do Ralo".
Sérgio Sant’Anna, Marcelo Mirisola, Glauco Mattoso, Alberto Martins, José Eduardo Agualusa e Noll também podem compor uma lista competente.
Matéria publicada no Diário em 20/09/2011, intitulada "Uma Semana Magnética".

Entrevista - Milton Hatoum

"Sou viúva, meu filho mais velho mora em São Paulo, os outros em Maringá. Se eu pudesse, também moraria em São Paulo. Porque gosto muito de dançar. Em Maringá é mais difícil. Não sabe como é uma cidade pequena? Vão me chamar de velha sirigaita, ou de viúva assanhada", escreveu Milton Hatoum, numa deliciosa crônica, publicada no Estado de S. Paulo: lá está Maringá, imortalizada na obra do maior romancista brasileiro vivo.
Aos 59 anos, o amazonense Milton Hatoum chega a Maringá, nesta quarta-feira, na Semana Literária do Sesc, com uma trajetória literária, que é, ao mesmo tempo, gigante e concisa. São apenas quatro romances publicados, "Relato de Um Certo Oriente" (1989), "Dois Irmãos" (2000), "Cinzas do Norte" (2005), "Órfãos do Eldorado" (2008), além de "Cidade Ilhada" (2009), primeira compilação de seus contos.
Dos romances, os três primeiros arrebataram um Jabuti. "Cinzas do Norte" fez a limpa e foi contemplado, também, com os prêmios Bravo!, APCA e Portugal Telecom: não deu para mais ninguém.
Autor tardio, Hatoum publicou "Relato" apenas aos 37 anos. Quando olha para trás, ele não se arrepende nem um pouco de ter demorado tanto para dar seu pontapé inicial na literatura.
"O romance é a arte da paciência. Não me arrependo de não ter publicado um texto antes do ‘Relato’. Seria apenas um ato de vaidade, inconsequente e fútil como todo gesto excessivamente vaidoso", comenta, em entrevista concedida por e-mail.
Suas histórias, vertidas para dez idiomas e publicadas em catorze países, trazem uma prosa poética delicada, com uma verve própria arrebatadora. Embora mitifique Manaus na maioria de suas histórias, Milton Hatoum rechaça veementemente o rótulo de escritor regionalista.
"A cidade de Manaus, a paisagem do rio Negro e certas particularidades regionais têm um papel importante e até decisivo na caracterização dos personagens. Mas isso nada tem a ver com o regionalismo", desconversa.Prestes a lançar um novo livro, com o título provisório de "O Lugar mais Sombrio", o autor quer mesmo encerrar esse papo regionalista.
Desta vez, seu romance será ambientado na Paris do final da década de 1970. "É um livro sobre exílio e paixão em Paris", adiantou, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Ao Diário, Hatoum fala sobre seu fazer literário, seu estilo próprio e aconselha: "Aprender a escrever reside na prática da escrita, na assimilação do que já foi escrito".
Você escreve pelo prazer de escrever?
O desejo de escrever é uma espécie de comoção, de arrebatamento. Esse desejo está intimamente relacionado com a descoberta de um mundo inventado, que é o vetor da prosa de ficção. Há momentos de intuição, ou inspiração, que são compartilhados com a reflexão sobre o ato de escrever. Essa combinação permanece ao longo da narrativa, depois corrijo e reescrevo o texto várias vezes, até a exaustão.
Como se chega à técnica do romance?
A leitura de bons romance antecede a escrita. Escrever significa, antes de mais nada, saber ler. Os grandes romances nos ensinam a lidar com estratégias narrativas que envolvem questões técnicas e fundamentos teóricos sobre a arte da ficção. No ‘Grande Sertão: Veredas’, o narrador Riobaldo diz algo assim: ‘Aprender a viver é que é o viver mesmo’. De um modo análogo, aprender a escrever reside na prática da escrita, na assimilação do que já foi escrito.
Quando se deu conta de que tinha uma voz própria?
Você encontra sua própria voz quando descobre o texto que está escrevendo. Cada romance é uma forma de aprendizagem e de desafio. A voz própria tem muito a ver com a experiência do narrador, que, de algum modo, expressa a inquietação do escritor. Quando comecei a escrever o ‘Relato de um certo Oriente’, percebi que podia inventar um microcosmo, com situações e conflitos que seriam dramatizados por personagens. O mais difícil é encontrar a voz e o tom do narrador, que é uma questão central na prosa de ficção.
Você demorou para publicar seu primeiro romance. Esse tempo foi essencial ou você se arrepende: deveria ter lançado um romance mais cedo?
Demorei porque tudo o que tinha escrito antes do ‘Relato’ era superficial, mal cabia numa crônica. A escrita depende da experiência de vida e de leitura, que são inseparáveis. E há também o tempo de espera, o tempo que filtra essa experiência e dá ânimo aos narradores. O romance é a arte da paciência, da sedimentação de uma longa reflexão sobre questões que nos inquietam. Não me arrependo de não ter publicado um texto antes do ‘Relato’. Seria apenas um ato de vaidade, inconsequente e fútil como todo gesto excessivamente vaidoso. Por isso demorei a escrever o ‘Dois Irmãos’, que é meu romance lido e conhecido. A mesma coisa aconteceu com o ‘Cinzas do Norte’, publicado em 2005, mas cujo esboço data de 1980, quando eu morava na Espanha.
Você sempre renega o rótulo de escritor regionalista. Mas, na sua literatura, você não identifica nada de regionalismo?
Há dezenas de dissertações, teses e ensaios sobre o meu trabalho, mas os poucos que abordam esse tema, expandem o conceito de regionalismo e preferem tratar da relação entre o local e o universal. Ou seja, a partir de uma situação local ou regional, a ficção alcança uma dimensão universal. Meus romances são ambientados na cidade de Manaus, que é quase uma personagem do ‘Dois Irmãos’. Alguns contos de ‘A Cidade Ilhada’ são ambientados em Barcelona, Paris e na California. Mas para um resenhista apressado ou de olhar turvo, um romance ambientado na Amazônia é rotulado de regionalista. Algo do Amazonas está latente nos meus romances, mas o que eles abordam são dramas e conflitos familiares, trajetórias de vida e destinos de personagens. Eu não poderia abstrair Manaus dessas narrativas, pois nasci e passei a infância e uma parte da juventude lá. Acredito que a cidade de Manaus, a paisagem do rio Negro e certas particularidades regionais têm um papel importante e até decisivo na caracterização dos personagens. Mas isso nada tem a ver com o regionalismo ou com o pitoresco, e sim com a composição do romance.
Entrevista publicada no Diário em 13/09/2011.