Quando o Sesc divulgou a programação da Semana Literária, em junho deste ano, surpreendeu os amantes de literatura em Maringá.
Sete dias intensos com direito a Milton Hatoum, o maior romancista brasileiro vivo, além de mesas com Fabrício Carpinejar, Alice Ruiz e Affonso Romano de Sant’Anna. Baixa, apenas uma: o gaúcho João Gilberto Noll, autor de "Hotel Atlântico", cancelou sua participação na Semana por motivos pessoais.
O público não decepcionou. Marcou presença nas conversas com os autores, que duraram em média 2h. No encontro de Carpinejar com Alice Ruiz, o público se engalfinhou para ouvir a conversa . Mais de duzentas pessoas sentadas - algumas em pé -, davam a ideia de que, talvez, seja a hora de buscar um espaço maior para os próximos debates literários.
Cada mesa redonda contou com um mediador diferente. Isso enriqueceu as conversas. Em diversos momentos, os diálogos foram produtivos. Hatoum, por exemplo, reconheceu a ausência de humor em suas obras, como "Dois Irmãos" e "Cinzas do Norte". "Acho que é porque escrevo meus romances explorando a memória. Não há humor nos meus livros", disse. O escritor respondeu sobre a relação entre literatura e política em sua obra, falou sobre seu fazer literário, anunciou romance inédito, "O Lugar mais Sombrio", e disparou: "Não tenho medo do fracasso".
Quem imaginava um autor sisudo, surpreendeu-se com o bom humor. Criticou o lixo musical norte-americano. "Não dá mais para ouvir boas músicas no rádio". "Lady quem?", respondeu o autor a uma pergunta sobre aquela cantora que se veste de bife.
Nas conversas de Affonso Romano de Sant’Anna, Fabrício Carpinejar e Alice Ruiz, o papo firme rendeu bons momentos, também, com direito a bom humor. Carpinejar, como sempre, metralhou o diálogo com pequenas sutilezas poéticas, paridas ali mesmo, na conversa. E Alice Ruiz, que fica incomodada em responder sobre o seu Paulo Leminski, teve de trazê-lo à tona, indagada por seus leitores.
Tudo acabava na mesa do bar. Público, novos e consagrados escritores em meio a tilápias, cervejas, cachaças e vinhos: a literatura é mais visceral - ou líquida? - na mesa do bar. As perguntas, que haviam sido evitadas em público, ganham respostas inesperadas. E fica, ali, combinado um próximo encontro para o ano que vem.
Ao contrário do ano passado, a Semana Literária do Sesc focou no público adulto, incluiu novos escritores na programação e acertou em cheio: praticamente cinco dias perfeitos.
No entanto, algumas coisas ainda estavam desencontradas. A palestra "Marketing Emocional e a Relação de Consumo", ministrada pela escritora Ivana Martins, soava como uma nota errada num recital de piano: literatura para escanteio.
Altos e baixos
No lançamento do jornalista Wilame Prado, o público deu o ar da graça: mais de cem pessoas e sessenta livros vendidos. Uma marca excelente para um autor estreante.
Para o próximo ano, o Sesc tem a missão de fazer uma Semana ainda mais intensa. Entre os autores brasileiros, bem que poderiam convocar o imortal João Ubaldo Ribeiro, autor de "Sargento Getúlio" e "Viva o Povo Brasileiro". Seria tão antológico como foi receber o amazonense Milton Hatoum. Chama que ele vem.
Outro nome que vem fácil, e acrescentaria ao debate literário, é o quadrinista Lourenço Mutarelli, responsável pelo "O Cheiro do Ralo".
Sérgio Sant’Anna, Marcelo Mirisola, Glauco Mattoso, Alberto Martins, José Eduardo Agualusa e Noll também podem compor uma lista competente.
Matéria publicada no Diário em 20/09/2011, intitulada "Uma Semana Magnética".
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