sábado, 30 de abril de 2011

Domingos Pellegrini - Entrevista

Definido pelo crítico literário Wilson Martins como um "autor de um idioma próprio e de uma não menos própria visão do homem", Domingos Pellegrini não teve dificuldades para encontrar sua própria voz ao publicar seu primeiro livro, "O Homem Vermelho", em 1977.

Em sua estreia, contemplada com um Prêmio Jabuti, o autor londrinense apresentou uma escrita voltada à oralidade e histórias fortemente autobiográficas.

"Meu estilo é meu maior patrimônio. Ninguém escreveu como eu", defende, com razão, em entrevista ao Diário.

O escritor, que participa de debate sobre infância e literatura com a mineira Angela Lago, amanhã, no Sesc, não deixou que a verve de Hemingway e Graciliano Ramos, suas duas maiores influências, transformassem seu fazer literário num pastiche tosco. Deles, Pellegrini bebeu da concisão e da clareza, e parou aí.

Em mais de vinte livros, que incluem contos, poesias, romances e obras voltadas ao público infantil, o londrinense não sabe ao certo como explicar sua peculiaridade. "O jeito de um escritor tratar a língua não tem explicação. O estilo é uma dádiva, é um dom. Gosto de escrever como quem fala, mas isso não é uma tarefa simples. Na minha literatura, não há lugar comum. O leitor sente a narrativa como se ouvisse algo novo."

A dica, aos novos escritores, é inovar. O londrinense lembra que, na década de sessenta, quando houve um boom de contistas surgindo aos borbotões, a maior parte se dedicava à cópia descarada de Guimarães Rosa.

A linguagem sertaneja, contundo, não deu certo às pencas de jovens. "30% dos contistas seguiam Guimarães. Ninguém lembra, hoje, o nome desses caras."

Quem começa influenciado cegamente por um ídolo literário ainda escapar do fracasso. "É como uma banda cover. Dá até para começar tocando músicas de outras pessoas para ganhar coragem e subir ao palco. Mas, se não tiver composições próprias, a banda vai cair no esquecimento", compara.

Diferenças

Para escrever suas histórias, Pellegrini volta no tempo e visita mentalmente lugares que frequentou durante sua vida. Na pensão administrada por seu pai, por exemplo, entre diálogos de peões e mascates, o autor relembra as gírias, as imagens e vai tecendo as redes de suas narrativas.

Nos contos, ele só pôs no papel o que sentiu na pele. "Vivi a maioria das coisas que escrevi. Eu não inventei. Para fazer os contos, é preciso ter uma vida intensa. Por isso eu parei de escrevê-los", avalia.

Das pequenas histórias, surgiram romances quatrocentões, como "No Coração das Perobas" (2002), de 436 páginas, e "Terra Vermelha" (2003), de 472 páginas. Nos enredos mais extensos, ele abre mão da memória e parte para a observação.

"Nos romances, é preciso criar personagens fortes, tecer painéis humanos. Não escrevo tanto das coisas que vivi: aprecio a vivência dos outros", conta.

Vivendo somente de literatura, Pellegrini vê suas obras virarem dissertações acadêmicas, escreve crônicas para dois jornais do Paraná e acompanha, anualmente, seus contos ganharem novas compilações. Morar em Londrina e ambientar suas histórias por lá, longe demais das capitais, não prejudicou em nada sua produção."Faulkner era do interior. Gabriel García Márquez não ia além do interior da Colômbia."

Publicada em O Diário no dia 28 de abril.