quinta-feira, 8 de abril de 2010

No tuzinho não

Com 14 anos já era assim.
Ele assanhado com as mãos em cada parte da minha perna.
Joelho.
Beijinhos na orelha.
Lambidinhas na orelha.
Na pontinha, sabe?
Ele vinte e cinco anos mais velho.
Perdido no crime desde aquele tempo.
Bem rapidinho colocava lá dentro.
Na minha pititita.
Pra onde o pulso dele ia?
Todinho enfiado em mim?
Ai, que deu medo.
Um pulso grosso.
Me chamava de amor.
Tirava aquela coisa grande e gosmenta.
Não o pulso.
Aquela outra coisa.
Batia de leve na minha cabeça enquanto eu abocanhava.
E me colocava no colo.
Pocotó.
Pocotó.
Pocotó.
Vem, meu amor.
Como eu ia.
Tudo isso pra eu ficar de cachorrinho no final, sabe?
Pocotó.
Pocotó.
Pocotó.
Eu até que gostava.
Fazia um pouco de cosquinha.
Mas de repente ele entrou no buraco.
Na coisa.
Lá, apertado.
Minha vida ali em desespero.
Sangrei toda a alma.
Quase dois meses sentindo aquela coisa dentro de mim.
Dentro do buraco que até então eu só usava para despejar.
Nunca para entrar nada.
A porta de trás sempre só pra saída.
E pocotó.
Pocotó.
Pocotó.
Com meu segundo namorado deixei tudo muito claro.
Não na portinha de trás.
Jamais.
De nada adiantou.
Se eu bobeava, lá vinha ele.
Com tudo.
De uma só vez.
E como reclamar na hora do amor?
Sorrindo alucinado olhando pra mim.
Eu, a mulher da vida dele.
Durante 4 semanas.
No terceiro namorado bem claro deixei.
Sexo sim.
No tuzinho não.
Bem respeitoso o Manolo.
Mais jovem.
Tímido.
Um pouco gordo é verdade.
Mas de grande coração.
Eu que mexia nele.
Colocava a mão dele em mim.
Eu contei do dia no Parque do Ingá?
Ai, que coisa de criança.
Tava tudo bem.
O trauma passado.
Ficamos dois anos.
Depois não deu mais.
Ele sempre com sangue no zóio.
Sexo, sexo, sexo.
Viciou, coitado.
Tô viciado no cê, ele dizia.
Na hora da bimbada sempre fogoso.
Tava lá normal.
Sem avisar escapou pro buraco de cima.
No tuzinho não, gritei.
Aí ele não me largou.
Pegou com mais força.
Me segurava pelo ombro.
E ia com tudo.
Três vezes sem parar.
Pocotó.
Pocotó.
Pocotó.
Três vezes no tuzinho.
Por Deus.
Então acho que é por isso.
Quer dizer.
Acho, né?
Eles, os homens, nunca vão entender.
Cê nunca me fez esse tipo de proposta.
Ou coisa parecida.
Desisti deles pra sempre, sabe?

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Tchau bebê

O nome?
Confesso que nem tinha escolhido.
Eu tão moça.
Não saberia cuidar de criança nenhuma.
Cê imagina?
Como tratar com carinho?
E a escola?
Com que dinheiro comprar fralda leite roupinha?
Tava apavorada.
Quem me conhece viu.
A barriga crescendo.
O medo.
O desespero.
Tudo piorou quando fiquei sozinha.
Assim.
Nunca soube quem era o pai.
Podia ser o Baiano.
Podia ser o Antônio.
Podia ser o Bode.
Nunca fui mulher de um homem só.
Sempre tinha mais de um ovo na minha cestinha.
Não gosto de ficar sozinha.
Aí perdi o emprego.
Me despediram das Lojas Americanas.
Entrei fundo na bebida.
Era cachaça todo o santo dia.
Cachaça no Bar do Moacir.
Cerveja no Bar do Moacir.
E torcida de pimenta e queijo.
A primeira a chegar bem cedo.
Seis da tarde.
A última a sair.
E depois não acabava.
Ia direto pro Meu Pato.
Já ia meio bêba.
Sempre saindo do Meu Pato às quatro ou cinco da manhã.
Carregada.
Por quem?
Baiano.
Bode.
Antônio.
Daí cê já viu né?
Depois do bar nada recordo.
Liguei uma vez pro Baiano.
Tô vomitando demais eu disse.
Acho que tô grávida.
Sabe o que ele fez?
Desligou na minha cara.
Fiz o teste.
Positivo.
Eu grávida e desempregada.
Comprei umas pílulas pra abortar.
De nada funcionou.
Um enfermeiro dum hospital de Sarandi que me vendeu.
Amigo de amiga.
Tomei chá de canela quase todo dia.
Enfiei o controle remoto inteiro dentro de mim.
Com medo coloquei o salto da sandália.
Ô criança mais difícil de sair.
Tudo isso e eu tava sem emprego.
Ninguém quer uma grávida no trabalho.
O jeito foi esperar.
Não fui no médico.
Ninguém veio me visitar.
Ajuda recebi do vizinho.
Nos últimos dias me trouxe umas compras.
Disse que não preciso pagar.
No meio da noite senti aquela dor.
Eu sabia que era a criança.
Foi coisa de desespero.
Abri as pernas com tudo.
De uma vez só.
No lençol mesmo ele surgiu.
Ele.
Puxei o moleque com força.
Sem choro.
Achei que fosse desmaiar.
Nunca mais quero passar a dor de novo.
Que horrível.
Sangue pra todo o lado.
No lençol no rosto e nas pernas do bebê.
Sangue na minha mão.
Deixei o corpo na cama.
Dormi acho que por uma hora.
Acordei.
Peguei o corpinho no colo.
Ele não tinha a minha cara.
Não parecia nenhum dos possíveis pais.
Não tinha rosto de nada.
Fui pra cozinha meio mancando.
Deixei o corpo na mesa de madeira.
Alcancei a faca e cortei o cordão fedido.
Peguei o bebê pela perninha.
Levei para o quintal.
Com a pá cavei um buraco na grama.
Ajoelhei.
Rezei um pai nosso.
Depois uma salve rainha.
E joguei ele dentro da cova.
De costa.
Tchau bebê.
Pensei que todos os meus problemas tavam enterrados.
Mas não.
Começou a doer muito.
Dor de todo o tipo.
De toda a forma.
Facas espetadas em cada parte do meu corpo.
Não aguentei.
E vim pra cá.
Já tô cansada de ficar deitada.
Da comida sem gosto.
Só esperando cêis me darem alta.