segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Traficante eu?

A perna perdi na linha do trem
A direita
Se dói não sei não
Desmaiei e acordei assim ó
O eterno manquinho do Borba Gato
Respeitador de todos e muito trabalhador
Meu último emprego era na farmácia do bairro
Levando na casa o remédio dos coitados
E não ficava só na rotina
Eu sempre muito humano sabe?
Conversava com os velhinhos
Aceitava o chá das senhoras solitárias
Ria junto com elas
Fazia piada da minha perna
Deixava o dia um pouco feliz
De bicicleta sim das oito às oito
Cruzando a Vila Operária
Rasgando a Cerro Azul de cima pra baixo
Com cuidado maior na Avenida Brasil
-que não sou besta de ser atropelado viu?
Dois meses manco já pegava a prática
Nem sentia mais a falta da ausente pedalando
Acho que até ia mais rápido
Não sei de onde tiraram essa ideia
Traficante eu?
Só de amor seu moço
Nunca nem usei essas coisas aí quando jovem
Nem sei a cor o peso ou como se usa
Na hora ali fiquei é com medo
Cinco carros me encurralando e cantando pneu
Os brutamontes gritando com a cabeça pra fora da janela
O que cê faria?
Me joguei na magrela
Pisei fundo
Na confusão até perdi o chinelo
Cansado de tanto trabalho tive mau desempenho
Na subida da ladeira me alcançaram os trogloditas
Rindo da minha cara
E da falta que a perna me faz
Quem me conhecia chegou junto
Dizendo ele é do bem trabalha na farmácia
De nada adiantou
Deram uns tapas no meu rosto
Ofenderam minha mãe morta ano passado
Chamaram de puta maloqueira daí pra baixo
Zombando disseram que vou traficar agora no xadrez
Sei como é na prisão
Perneta e estuprador os prediletos dos marginais
Tapam a boca
Não tem como gritar
Amarram os braços
Passam gel às vezes perfume
Lambem todas as suas partes
As mil loucuras na sua frente atrás no seu ouvido
Um por um em fila organizada
Todos famintos carentes de amor

Cristovão Tezza - entrevista

Sempre quando entra num sebo, Cristovão Tezza faz questão de comprar o mesmo livro: "A Cidade Inventada" (1980). O objetivo? Tirar todos os exemplares de circulação. A obra, publicada pelo curitibano aos 28 anos, reúne 18 contos e é renegada pelo próprio. Há dois anos, em São Paulo, abordei o escritor, após uma palestra, e pedi uma dedicatória num dos raros exemplares que escaparam de suas mãos.
Primeiro, ele ficou surpreso - não é sempre que a gente dá de frente com um fantasma. Em seguida, abriu um sorriso e não escapou do autógrafo no volume que agora figura entre as minhas raras raridades de colecionador.
Que o autor de "A Cidade Inventada" continuasse a escrever, não era nenhuma grande surpresa. Afinal, embora Tezza discorde, seu livro exibe um jovem com fôlego e sede por literatura.
Mas que o responsável pela pequena obra de contos pudesse se transformar num dos grandes nomes vivos da literatura brasileira, daí já era demais: ninguém poderia prever.
"Literatura é arte de maturação muito lenta", define o escritor, em entrevista concedida por e-mail. Nesta quarta-feira (15), às 20h, no salão social do Sesc, Cristovão Tezza volta a Maringá, dessa vez, com o status de celebridade literária.
Autor de cerca de trinta obras, Tezza se aventurou pelo romance, teatro, em publicações acadêmicas e lançou aquele renegado e único exemplar de contos. Dos gêneros literários, o curitibano só não usou a poesia. Aliás, usou e não gostou. "Nunca fui um bom poeta", diz.
Nessa trajetória, ele conseguiu escrever obras como "Trapo", "Uma Noite em Curitiba" e "O Fotógrafo". Com "O Filho Eterno" (2007), o curitibano fixou seu nome na literatura nacional.
O livro, fortemente baseado em aspectos biográficos, venceu os principais prêmios literários do País. Foi contemplado com o Jabuti, os prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), Portugal-Telecom e o prêmio São Paulo de Literatura, o que resultou em R$ 300 mil no bolso do escritor, que deixou de lecionar Linguística na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Sucesso de crítica e público, a obra será transformada em peça teatral e filme, ambos sem previsões de estreia. Ainda neste mês, a editora Record deve, finalmente, publicar "Um Erro Emocional", encerrando o jejum do escritor e saciando a curiosidade dos leitores. Confira a entrevista de Tezza ao Diário.
O DIÁRIO A rotina de palestras mundo afora prejudicou a composição de "Um Erro Emocional"?
Cristóvão Tezza Tinha tudo para prejudicar, mas eu consegui tirar alguns meses para fechar o livro, finalmente, que eu vinha escrevendo há um bom tempo. Assim, escrevi o livro com as mesmas condições de todos os outros. "Um Erro Emocional" é uma história de amor ¿ ou, mais propriamente, a história de uma aproximação amorosa. É um livro bastante concentrado em poucas situações de tempo e espaço, mas todos os meus temas estão ali.
Agora que você virou uma celebridade literária, sentiu um peso ainda maior ao escrever o novo livro?
Não, não senti esse peso. Eu nunca me senti realmente uma celebridade literária. Já estou meio velho. Seria ótimo se essa festa tivesse acontecido há uns 15 anos.
Você já se aventurou em contos e romance. Por que não a poesia?
Fui poeta quando adolescente. Escrevi pilhas de poesias. Em 1975, escrevi alguns poemas quase bons, quando vivia em Portugal. Mas a prosa logo foi tomando conta da minha vida e abandonei o verso. Nunca fui um bom poeta.
Você vem sendo considerado um dos cinco futuros cânones da literatura brasileira. Qual sua opinião sobre a atual produção literária no Brasil?
Acho que a produção literária brasileira está crescendo muito. Toda a geração que se formou na entressafra dos anos 80 e 90, agora começa a produzir literatura mais madura.
Na sua opinião, quem serão os futuros cinco cânones?
Não acredito em cânones criados "em cima do laço". Literatura é arte de maturação muito lenta. Não tenho ideia do que será referência no futuro.
Milton Hatoum costuma desaconselhar os jovens a publicar seus textos em blogs e sair escrevendo livros. Para ele, é preciso que os jovens leiam os clássicos antes de escrever em blogs. O que acha desse conselho hatoumniano?
Que os jovens leiam clássicos, é fundamental. A literatura não é uma arte ingênua nem se faz por geração espontânea. Quanto ao blogs, acho que cada caso é um caso. Não tenho nada contra as novas linguagens criadas pela internet. Na verdade, a internet ajudou muito a literatura brasileira, que passou a contar com uma divulgação e informação que jamais teve antes.
Quais cinco obras você gostaria de indicar aos novos escritores?
Não sei dizer assim - os clássicos, como diria o Hatoum. Quem escreve sabe achar o caminho.

Publicada no jornal O Diário em 15 de setembro de 2010

Entrevista - Cristovão Tezza

Cristovão Tezza é um pé frio. Deve ser alguma macumba das bravas, mandinga de escritores de auto-ajuda, vai saber? É coisa da pesada mesmo. Na semana passada, como convidado da Semana Literária no Sesc, o premiado escritor curitibano deu a palestra, sozinho, sobre criação literária.
Em cima da hora, o gaúcho Moacyr Scliar cancelou sua participação no evento, devido ao delicado estado de saúde de seu sogro. Hoje, Cristovão Tezza retorna à Maringá, desta vez, como parte da programação do projeto "Autores e Ideias", e novamente dará a palestra desfalcado. O jornalista Daniel Piza, ícone do jornalismo cultural brasileiro, cancelou sua participação no debate, aos 45 minutos do segundo tempo, alegando "motivos pessoais".
Ainda bem que durante a palestra da semana passada, Cristovão Tezza seguiu o tema proposto: não há risco dele se repetir ou do público ser tomado pela sensação de déjà vu.. Hoje à noite, o tema será diferente:
"Tecnologia e Leitura no Cotidiano". Bem humorado, o autor encontrou uma sala cheia de universitários, leitores e leitoras quarentões, todos empunhando, no mínimo, uma de suas obras debaixo do braço para serem assinadas após o bate papo.
Mediado pelo professor de literatura da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Milton Hermes Rodrigues, o debate com Cristovão Tezza rendeu boas revelações sobre o processo criativo de seus livros. Sobre seu novo romance, "Um Erro Emocional", que será lançado neste mês pela editora Record, Cristovão Tezza desabafou: "Estou realmente ansioso e inseguro com a publicação".
Criação literária
A ideia de escrever "Trapo" (1988), obra que o projetou o nome de Cristovão Tezza no cenário nacional, surgiu com uma imagem de "Palmeiras Bravas", do estadunidense William Falkner. Tezza, ainda como estudante do curso de Letras, andava escrevendo alguns poemas, intitulados "23 Modos de Assassinar a Poesia".
Seus amigos e colegas de sala sugeriam, em conversas, que ele tranformasse as poesias num livro. Com uma imagem de um excerto de "Palmeiras Bravas" na cabeça, Cristovão Tezza pasou a escrever sobre o universo das décadas de 70 e 80, inserindo no enredo da história personagens reais de Curitiba, pessoas que ele conheceu nas mesas dos bares e outras figuras do meio publicitário da capital paranaense.
Depois disso, ele reuniu os poemas e, na mesma ordem em que foram escritos, organizou os volumes, intercalando-os no romance, compondo um rico jogo de linguagem e revelando sua versatilidade como escritor.
"Num determinado momento, quando eu já estava escrevendo a história, não havia mais ligação entre o 'Trapo' e o livro de Faulkner", observa. "Não há lógica nenhuma na criação literária", conclui o autor, com uma gargalhada. A fórmula alcançada em "Trapo" foi repetida em outra obra bem conhecida de Tezza, "Uma Noite em Curitiba" (1995).
Medo de errar
Durante a palestra, Tezza confessou estar inseguro e ansioso com relação a "Um Erro Emocional", sua nova obra, ainda inédita. A pressão do autor é compreensível. A nova obra sucede sua obra-prima, "O Filho Eterno", responsável por fixar seu nome entre os maiores literatos brasileiros vivos.
"Estou realmente inseguro e ansioso com o lançamento do novo romance. Ninguém, além da minha editora, leu a obra. No entanto, acho difícil eu conseguir escrever um livro ruim a essa altura da vida. Acho que aprendi algumas coisas", disse Tezza.
Imaginando que a obra seja recebida aos tapas e pontapés pela crítica especializada, o escritor arrancou risos da platéia ao sugerir, em tom de piada, um outro título para seu novo romance: "A Explusão do Paraíso".
Segundo Tezza, "Um Erro Emocional" foi composto a partir de alguns dos contos que vem produzindo desde 2007. "Eu criei um passado para os personagens. Os contos foram apenas esboços para este romance", contou.
O punhado de histórias concisas acumuladas nesses anos não será reunido agora, como alguns cogitavam. Ao invés de lançar, concomitantemente, um romance e um livro de contos, Cristovão Tezza vai guardar "Beatriz" para 2011.
Crônica
A definição de Tezza para o gênero literário que imortalizou Rubem Braga arranca mais risadas do público: "Crônica é conversa fiada com estilo". Como cronista, o autor curitibano aceitou o desafio proposto pelo jornal Gazeta do Povo e assumiu uma coluna semanal.
Na rotina de cronista, nada de tranquilidade. O trabalho é duro e Tezza não costuma escrever suas histórias de uma só vez. "Estou sermpre voltando à história para melhorá-la".
Dos temas abordados em sua coluna, alguns provocam a resposta imediata de leitores. "Se escrevo alguma coisa sobre o Atlético Paranaense e sobre as calçadas de Curitiba, como fiz uma vez, dizendo que eram as piores calçadas do mundo, os leitores sempre enviam um e-mail e deixam comentários", conta.
Para o novo encontro de hoje, mais histórias e gargalhadas com Critovão Tezza. Chance única para ficar cara a cara com um gênio da literatura contemporânea.

Publicada em O Diário no dia 23 de setembro de 2010

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A provocação de Mutarelli

Lourenço Mutarelli está surpreso com a reação dos leitores à sua nova obra, "Nada me Faltará". "Tem muita gente com raiva do livro", disse, por telefone, em meio a risos. Em 136 páginas, o autor de "O Cheiro do Ralo" (2002) conseguiu compor um enredo tenso, do início ao fim, sobre o desaparecimento de uma família.

Enquanto sua esposa e filha permanecem desaparecidas, o pai, Paulo Maturello, reaparece na história, vivendo na casa de sua mãe, sem qualquer lembrança do que aconteceu, e passa a ser objeto de investigação. Se ele é o assassino da sua própria família, ou não, cabe ao leitor decidir. "As pessoas querem tudo mastigado. Os leitores não querem participar", reclama o escritor e quadrinista paulistano.

Tal como em "A Arte de Produzir Efeito Sem Causa" (2008) e "Miguel e os Demônios" (2009), Mutarelli recorreu a um clima profundamente misterioso e ao final em aberto – que, segundo ele, não é tão aberto quanto parece. "Deixei pistas sutis para direcionar o leitor ao final da história. O protagonista é o assassino", decreta.


Diálogos

Toda escrita em diálogos, a obra demorou apenas 2 meses para ser composta. "Escrevi imaginando uma história em quadrinhos feita apenas pelos balões das falas das personagens. Foi difícil situar o leitor no tempo e escrever os detalhes das personagens por meio dos diálogos", diz.

A linguagem dos diálogos cortantes permanece seca, concisa. Não há metáforas nem doses de lirismo, como ele fez em "O Natimorto" (2004), sua melhor obra. Nas mãos do escritor, as pequenas paranóias do cotidiano costumam ser transformadas em recursos cômicos.
Desta vez, no entanto, Mutarelli abriu mão do humor minimalista que

marcou sua trajetória literária. "O assunto desse livro é pesado. Suprimi o humor, que havia no começo do livro, porque ele diluía a tensão", diz. "Nada me Faltará" é seu livro menos engraçado, mas ainda há passagens bem humoradas, como uma malfadada sessão de hipnose do protagonista.

Férias

Lançando um livro por ano desde 2008, Mutarelli já sente um peso maior na hora em que vai para frente do notebook ou quando perambula pelo apartamento registrando suas histórias num gravador. "Escrever, hoje, não é tão fácil como era antes. Vou passar um ano sem escrever enquanto aproveito para terminar um livro com meus desenhos. Acho que a distância da literatura vai me ajudar nos próximos livros".

Mutarelli acredita que a profissionalização de um escritor é sempre perigosa. "Estou tomando muito cuidado com ela, afinal, quando passa a ser um trabalho, nada é tão prazeroso", diz.

Mesmo assim, o próximo livro do autor já está pronto e será lançado dentro da série "Amores Expressos", da Companhia das Letras. "Com essa nova história ambientada em Nova York encerro a minha trilogia, iniciada em 'A Arte de Produzir Efeito Sem Causa' e 'Nada me Faltará', com personagens que passam por mudanças em suas vidas e voltam a morar na casa de seus pais", diz.

Na literatura de Mutarelli, as famílias despedaçadas ajudam a compor a profundidade psicológica das personagens envolvidas nas tramas. O clima jamais é ameno. Tudo é soturno, lúgubre, desesperado e as pessoas carregam, em si, um mal que desperta furiosamente sem aviso prévio.

Em "Nada me Faltará", o triunfo literário de Mutarelli é a provocação, envolvendo o leitor numa rede de mistério minuciosamente elaborada, compondo uma obra sem afeto, fria e repleta de angústia.

Para ler

"Nada me Faltará", de Lourenço Mutarelli
Editora: Companhia das Letras
Preço: R$37
Avaliação: ótimo

Publicada no jornal O Diário no dia 5 de janeiro de 2011.

Leia o relato do meu encontro com Mutarelli, em São Paulo, no início de 2010.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Os melhores livros de 2010

"Em Alguma Parte Alguma", do Gullar, é o melhor livro do ano

Quem aprecia a boa literatura não tem do que reclamar neste 2010. A produção literária foi extremamente bem produzida nos gêneros conto, romance e poesia. No panorama nacional, os livros mais esperados foram "Um Erro Emocional", do curitibano Cristovão Tezza, e "Em Alguma Parte Alguma", do poeta maranhense Ferreira Gullar.

As duas obras estavam previstas para serem lançadas no final de 2009, mas só chegaram às livrarias no segundo semestre. Alívio para os leitores de Gullar.

O autor de "Poema Sujo" (1976) não publicava um livro de versos inéditos há onze anos. Forte candidato a melhor livro do ano em todos os prêmios literários de 2011, "Em Alguma Parte Alguma" é um livro delicado e mostra o poder das palavras do maior poeta brasileiro vivo, versando sobre morte e o cotidiano. Na obra, Ferreira Gullar faz referências ao escritor austríaco Rainer Marie Rilke e dedica meia dúzia de poemas ao seu gatinho de estimação.

Já o curitibano Cristovão Tezza também saciou a curiosidade de seus leitores que, desde "O Filho Eterno" (2007), estavam curiosos para acompanhar seu próximo romance. Numa história de amor, escrita em linguagem límpida e ritmo narrativo veloz, Cristovão Tezza retomou os temas que marcaram suas obras passadas, como "Uma Noite em Curitiba" (1995) e "O Fotógrafo" (2004), e traz para a ficção as tensões dos relacionamentos conjugais.

De Curitiba, Dalton Trevisan mostrou que não perdeu a forma. Aos 84, continua lançando um livro por ano. Desta vez, o "Vampiro de Curitiba" saiu à tona com "Desgracida", investindo em contos curtíssimos, retratando marginais, ladrões, traficantes e prostitutas. Um dos pontos mais peculiares da obra é a inusitada seção que reúne sua correspondência particular. Nas más traçadas linhas de Dalton Trevisan, ele debocha de Guimarães Rosa e decreta que Machado de Assis é o maior contista brasileiro.

Considerado o melhor contista brasileiro, Dalton Trevisan foi o tema da obra de outro paranaense, o escritor Miguel Sanches Neto, de Ponta Grossa. Em "Chá das Cinco com o Vampiro", Miguel Sanches Neto romanceou sua relação com Dalton Trevisan e o retratou de forma cruel. Na obra, o autor fala mal de Dalton, como sujeito e escritor.

A obra, em si, é ruim. Mas é, de fato, um livro histórico na literatura nacional. Ele conseguiu mostrar, pela primeira vez, detalhes sobre a rotina e a vida pessoal do mais recluso escritor brasileiro de todos os tempos. Em troca, foi chamado de "hiena papuda" pelo curitibano e seu livro foi duramente rechaçado no círculo dos escritores.

Entre os novos poetas, os destaques deste ano são os paulistas Fabrício Corsaletti, com "Esquimó", e Alberto Martins, que publicou "Em Trânsito". Ambos publicados pela Companhia das Letras, comprovam que a poesia contemporânea no Brasil tem voz própria e está sólida, mesmo quando comparada ao universo literário de outros países, como Argentina e Alemanha.

Estrangeiros

Dos nomes internacionais, o ano de 2010 teve boas surpresas. O norte-americano Philip Roth, pela primeira vez em sua trajetória, escreveu sobre a relação de um casal de lésbicas, compondo, em "A Humilhação", personagens perturbadas psicologicamente.

Conterrâneo de Roth, Paul Auster fez bonito em "Invisível". Provocou a sociedade estadunidense com uma relação incestuosa entre irmãos e fez uma bela história de amor, em clima de suspense , numa narrativa ágil.

Com "Verão", o sul-africano J. M. Coetzee mostrou uma verve bem humorada ao romancear sua própria biografia a partir das perspectivas das mulheres com as quais se envolveu.

Confira a lista:

Em Alguma Parte Alguma

Ferreira Gullar

Editora José Olympio
Aos 80 anos, o poeta maranhense compõem poemas viscerais sobre a morte, o cotidiano e o amor

Um Erro Emocional

Cristovão Tezza

Editora Record

Uma narrativa delicada e ágil sobre o envolvimento amoroso de um escritor consagrado com sua leitora

Desgracida

Dalton Trevisan
Editora Record
Em contos pequenos, o "Vampiro de Curitiba" dá espaço a ladrões e prostitutas. Na seção de cartas, critica Guimarães Rosa

Invisível

Paul Auster
Editora Companhia das Letras
Com um enredo provocador, o escritor norte-americano escreve sobre incesto e compõe uma bela história de amor e suspense

O Albatroz Azul

João Ubaldo Ribeiro
Editora Companhia das Letras
Neste romance breve, o escritor baiano volta a mitificar a ilha de Itaparica e escreve uma delicada história sobre a vida e a morte

A Humilhação

Philip Roth
Editora Companhia das Letras
Pela primeira vez, Philip Roth narra o envolvimento de um casal de lésbicas. A obra explora a profundidade psicológica das personagens

Verão

J. M. Coetzee
Editora Companhia das Letras
Num dos livros mais bem humorados do Nbel sul-africano, J. M. Coetzee faz seu autorretrato por meio de olhares de suas mulheres

Esquimó

Fabrício Corsaletti
Editora Companhia das Letras
Com alusões a Bob Dylan e César Vallejo, Corsaletti desponta como um dos principais nomes da poesia contemporânea no Brasil

Chá das Cinco com o Vampiro

Miguel Sanches Neto
Editora Objetiva
Escritor de Ponta Grossa levou Dalton Trevisan ao universo da ficção, criticando-o como autor decadente e um ser humano pérfido

A Morte de Matusalém

Isaac Bashevis Singer
Editora Companhia das Letras
Contos do Nobel de Literatura, morto em 1875, abordam a vida sexual de suas personagens com bom humor e final surpreendente

Em Trânsito

Alberto Martins
Editora Companhia das Letras
O escritor e artista plástico faz de São Paulo sua personagem principal e versa sobre pequenas situações do cotidiano

Nada me Faltará

Lourenço Mutarelli
Editora Companhia das Letras
Numa obra amargurada, o escritor e quadrinista paulistano narra o desaparecimento de uma família

A Arte de Tomar um Café

André Simões
Atrito Art
Com sacadas inteligentes, jornalista londrinense mostra seu ponto de vista ranzinza e, em alguns momentos, saca da manga doses de lirismo

Publicado no jornal O Diario em 1 de janeiro de 2011