segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Entrevista - Cristovão Tezza

Cristovão Tezza é um pé frio. Deve ser alguma macumba das bravas, mandinga de escritores de auto-ajuda, vai saber? É coisa da pesada mesmo. Na semana passada, como convidado da Semana Literária no Sesc, o premiado escritor curitibano deu a palestra, sozinho, sobre criação literária.
Em cima da hora, o gaúcho Moacyr Scliar cancelou sua participação no evento, devido ao delicado estado de saúde de seu sogro. Hoje, Cristovão Tezza retorna à Maringá, desta vez, como parte da programação do projeto "Autores e Ideias", e novamente dará a palestra desfalcado. O jornalista Daniel Piza, ícone do jornalismo cultural brasileiro, cancelou sua participação no debate, aos 45 minutos do segundo tempo, alegando "motivos pessoais".
Ainda bem que durante a palestra da semana passada, Cristovão Tezza seguiu o tema proposto: não há risco dele se repetir ou do público ser tomado pela sensação de déjà vu.. Hoje à noite, o tema será diferente:
"Tecnologia e Leitura no Cotidiano". Bem humorado, o autor encontrou uma sala cheia de universitários, leitores e leitoras quarentões, todos empunhando, no mínimo, uma de suas obras debaixo do braço para serem assinadas após o bate papo.
Mediado pelo professor de literatura da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Milton Hermes Rodrigues, o debate com Cristovão Tezza rendeu boas revelações sobre o processo criativo de seus livros. Sobre seu novo romance, "Um Erro Emocional", que será lançado neste mês pela editora Record, Cristovão Tezza desabafou: "Estou realmente ansioso e inseguro com a publicação".
Criação literária
A ideia de escrever "Trapo" (1988), obra que o projetou o nome de Cristovão Tezza no cenário nacional, surgiu com uma imagem de "Palmeiras Bravas", do estadunidense William Falkner. Tezza, ainda como estudante do curso de Letras, andava escrevendo alguns poemas, intitulados "23 Modos de Assassinar a Poesia".
Seus amigos e colegas de sala sugeriam, em conversas, que ele tranformasse as poesias num livro. Com uma imagem de um excerto de "Palmeiras Bravas" na cabeça, Cristovão Tezza pasou a escrever sobre o universo das décadas de 70 e 80, inserindo no enredo da história personagens reais de Curitiba, pessoas que ele conheceu nas mesas dos bares e outras figuras do meio publicitário da capital paranaense.
Depois disso, ele reuniu os poemas e, na mesma ordem em que foram escritos, organizou os volumes, intercalando-os no romance, compondo um rico jogo de linguagem e revelando sua versatilidade como escritor.
"Num determinado momento, quando eu já estava escrevendo a história, não havia mais ligação entre o 'Trapo' e o livro de Faulkner", observa. "Não há lógica nenhuma na criação literária", conclui o autor, com uma gargalhada. A fórmula alcançada em "Trapo" foi repetida em outra obra bem conhecida de Tezza, "Uma Noite em Curitiba" (1995).
Medo de errar
Durante a palestra, Tezza confessou estar inseguro e ansioso com relação a "Um Erro Emocional", sua nova obra, ainda inédita. A pressão do autor é compreensível. A nova obra sucede sua obra-prima, "O Filho Eterno", responsável por fixar seu nome entre os maiores literatos brasileiros vivos.
"Estou realmente inseguro e ansioso com o lançamento do novo romance. Ninguém, além da minha editora, leu a obra. No entanto, acho difícil eu conseguir escrever um livro ruim a essa altura da vida. Acho que aprendi algumas coisas", disse Tezza.
Imaginando que a obra seja recebida aos tapas e pontapés pela crítica especializada, o escritor arrancou risos da platéia ao sugerir, em tom de piada, um outro título para seu novo romance: "A Explusão do Paraíso".
Segundo Tezza, "Um Erro Emocional" foi composto a partir de alguns dos contos que vem produzindo desde 2007. "Eu criei um passado para os personagens. Os contos foram apenas esboços para este romance", contou.
O punhado de histórias concisas acumuladas nesses anos não será reunido agora, como alguns cogitavam. Ao invés de lançar, concomitantemente, um romance e um livro de contos, Cristovão Tezza vai guardar "Beatriz" para 2011.
Crônica
A definição de Tezza para o gênero literário que imortalizou Rubem Braga arranca mais risadas do público: "Crônica é conversa fiada com estilo". Como cronista, o autor curitibano aceitou o desafio proposto pelo jornal Gazeta do Povo e assumiu uma coluna semanal.
Na rotina de cronista, nada de tranquilidade. O trabalho é duro e Tezza não costuma escrever suas histórias de uma só vez. "Estou sermpre voltando à história para melhorá-la".
Dos temas abordados em sua coluna, alguns provocam a resposta imediata de leitores. "Se escrevo alguma coisa sobre o Atlético Paranaense e sobre as calçadas de Curitiba, como fiz uma vez, dizendo que eram as piores calçadas do mundo, os leitores sempre enviam um e-mail e deixam comentários", conta.
Para o novo encontro de hoje, mais histórias e gargalhadas com Critovão Tezza. Chance única para ficar cara a cara com um gênio da literatura contemporânea.

Publicada em O Diário no dia 23 de setembro de 2010

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