Ai, que velho chato atrás de mim. O garoto até ofereceu lugar. Mas ele não vai. Que droga. Sempre esse cheiro ruim. Nas curvas, já me preparo: lá vem o velho. No redondo é pior. Seguro firme e ele também. Sempre grudado em mim. Que nojo. Crucifixo no pescoço, camisa aberta, suado. Até falei com o Joãozinho esses dias. Ele me disse velhinhos são bons e não devo desgostá-los. Um dia, o Joãozinho disse oi pro velho. Nem respondeu. Sabe, nem tenho coragem de virar quando o velho está atrás de mim.
Só um dia quis sentar. Uma moça gorda levantou bem do meu lado. Laranjas e remédio na sacolinha. Suava. Olhava pra cima. Ficava se coçando. Fingia dormir quando encostou a boca no meu ombro. Mão esquerda na sacola; a outra, coçando as pernas. A dele e a minha.
Acho que a mãe do Joãozinho ganhou carro. Ele não me acompanha mais. Subo no ônibus sozinha, ali no terreno vazio. Semana passada, o velho estava lá. Graças a Deus ficou longe. Olhando esquisito, mas longe. Foi só entrar no ônibus. Na escadinha, mesmo. Será que ninguém vê? O motorista? O cobrador? Os passageiros? Toda noite peço pra Jesus fazer alguma coisa. Mandar santinhos, anjinhos. Eu sei que isso é feio, mas odeio aquele velho.
3 comentários:
excelente alexandre...
da pra viver a cena com o texto.
coitada da menina, ter que aturar o veio fedorento. =P
forte abraço
Muito bom ler voce.
Gaioto, que tal uma versão radiofônica de seus contos? Voluntário pra algumas vozes, aqui!!
Rafão.
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