quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Depois do Bar do Vermelho

Eu tinha acabado de sair da panificadora, já estava escuro. Fui para casa, contornando o muro do cemitério, e parei para fazer sinal da cruz, em frente à capela do Prever. Três velhos sendo velados.

Em casa, antes de tomar banho, recebi um telefonema-gravação daquela atriz famosa, tentando me convencer a adquirir um pacote para celular, incluindo seis meses de mensagens gratuitas.

Nós nos reunimos no Bar do Vermelho, aqui perto. Fui andando, não perco dez minutos, nem fico suado. Matraca e Paulão chegaram depois, no Del Rey preto.

O ponto do Bar do Vermelho é precioso. Para chegar à faculdade, basta descer uma única rua. As garotas moram por aqui. Voltam para casa em pequenos grupos. Na sexta-feira, todas enfeitadas para a noitada.

O nome dela é Ariela. Mora sozinha, frequenta a academia. De segunda a sábado, uma hora de exercícios enfiada num vestido de tenista de filme pornô. Que pernas.
Eu mesmo não queria isso. Foi coisa do Matraca e do Paulão. Até insisti para a gente ficar mais um pouco no Vermelho.

Enquanto ela tentava encontrar a chave na bolsa, o Matraca mostrou a faca:

“Quero amor”, disse.

Subimos os quatro no elevador apertado. Boca tapada, ela se esfregando no Paulão. Foi difícil colocá-la dentro do apartamento. A pancada na cabeça? Resultado da mão pesada do Matraca. Deitamos ela no sofá, com a cabeça na almofada.

Tiramos a seqüência no par ou ímpar. Eu, o último.

O Paulão começou lá mesmo. Em seguida, partiu com ela para o quarto. O Matraca ficou se divertindo com as saias e com as calcinhas. Eu fiquei vendo as fotos dela. Bailarina desde a quarta série. E como era gordinha.

Quando ela insistia em acordar, alguém dava soco na cabeça. Mas não tinha estilete, não. Isso é certeza.

O Paulão, saciado, ajudou o Matraca a colocá-la de quatro, no banheiro. Acomodou a cabeça da Ariela na tampa do vaso sanitário. Arrumou o cabelo dela nas costas. Eu ainda estava na cozinha, acompanhando sua excursão para a Pousada do Rio Quente, na oitava série.

Eu ouvia os gritos vadia, putona, filha da puta, cachorra, mais, mais, gostosa, que eu fico louco, que eu vou gozar, porra, mais, caralho.

Na minha vez, fui para o banheiro e perdi a vontade. Toda lambuzada, tadinha.

“Se não for, não é homem, porra”, eles disseram e apontaram a faca.
Gozei rápido. O Paulão foi por trás do Matraca, ali na minha frente. Veados. No sinal combinado, o Matraca agachou e se lambuzou com o jato do Paulão. Eu já tinha levado a Ariela para a sala. Vi que seus olhos estavam cerrados. Tomei o pulso. Nada. Abri seus olhos, fiz respiração. Veio o Matraca e deu outra pancada na cabeça. Sobrou até para mim:

“O que você fez, caralho? Fodeu e matou a menina, escroto?”

“Ela não respira, Matraca”.

“Dê um jeito ou eu vou te foder”, disse, dirigindo-se ao quarto.

Comecei a rezar.

Voltou exibindo o pau.

Tirou a cinta e começou a espancar a Ariela. Pulei em cima dele. Puxei pelo pescoço. Minha vez de receber cinta nas costas.

Eu sangrei durante vinte e cinco minutos.

Meu cu ainda está ardendo.

E não lembro de mais nada.