terça-feira, 31 de maio de 2011

Aos vinte e três

Cansadas depois de acordar
As ramelas dos olhos me levam ao espelho
Tenho vergonha de encarar à frente
-aquilo que nunca fui está ali esperando uma resposta

Meto uma calça jeans
Pego o cinza da camiseta
Calço o velho tênis
Desço do elevador sem cumprimentar o porteiro
-havia mesmo um porteiro?

Na esquina da Avenida Brasil com a São Paulo
Encontro mais ramelas como as minhas
Elas são pesadas
Secas
Amargas
Dirigem carros importados
Seguem a pé rumo ao ponto de ônibus
Correm em silêncio enumerando as tarefas do dia
Entre os disparos de mensagens por celular
E a narração das manchetes dos principais jornais do País no rádio da pastelaria

Entro nesse prédio equilibrando um elefante nas costas
E ainda tenho de sorrir dar um alô perguntar tudo bem e o seu pai
-como vai?
No teclado as letras saem lentas sem estilo nem tesão
Sou um homem morto
-concluo aos vinte e três anos de idade

Um comentário:

Ana Maria disse...

De fato! Todos nos vemos tudo isso..todos temos uma rotina desgraçada. Mas a sua perspectiva é singular.