Cuidado ao se aventurar na leitura de “Até mais, vejo você amanhã”. Por mais que a linguagem e a história sejam simples, o romance do jornalista norte-americano William Maxwell é uma boa armadilha. Basta notar o elogio incomum que John Updike, um dos mais relevantes escritores da língua inglesa contemporânea, fez à obra: “Um livro encantador, completamente distinto, em sua forma, de qualquer outro que eu tenha lido.”
William Maxwell, morto em 2000, publicou, ao todo, doze livros: seis romances, três volumes de contos, um de memórias, um de literatura infantil e outro reunindo seus melhores artigos. Durante quatro décadas, ele trabalhou como editor da prestigiosa revista New Yorker, dedicada à literatura, música, teatro e artes plásticas.
No cargo, mantinha contato constante com críticos de arte e literatos, e veiculou, na revista, textos escritos por J. D. Salinger e Vladimir Nabokov. Talvez por influência do jornalismo, William Maxwell absorveu a concisão e a clareza em sua escrita. Em “Até mais, vejo você amanhã”, o autor explora a narrativa límpida, rápida, descrevendo as cenas com detalhes essenciais.
Publicado originalmente em 1980, o livro venceu o National Book Award e a Howells Medal da Academia Americana de Artes e Letras. A história se passa na década de 1920, na zona rural de Lincoln, no Estado de Illinois, num ambiente extremamente pacato. E, mesmo com a ausência de violência no local, o meeiro Lloyd Wilson é assassinado com um tiro de pistola.
Maxwell, felizmente, não investe no enredo policial. Sua proposta é mais elaborada. Cinquenta anos depois do crime, um homem passa a reconstituir o enredo, os personagens e o espaço daquele momento. Esse homem – o narrador –, na época do crime, era um amigo muito próximo do filho do assassino. Mas, depois da tragédia, os dois se separaram e nunca mais trocaram palavras entre si.
A reconstituição dos ambientes familiares, das residências e das tensões nas famílias do assassino e do assassinado, dois vizinhos de fazenda, se dá por meio da criatividade no narrador, que não teve acesso aos mínimos detalhes ou às conversas entre os personagens.
Ele recompõe, então, sobre o motivo da tragédia, que seria o caso extraconjugal da mulher do assassino com Lloyd Wilson, o meeiro assassinado. Após observar seu casamento ir por água abaixo, o assassino entra num estado de loucura e dispara contra o seu vizinho, amigo e traidor.
Da ignorância ao domínioQuando John Updike escreve que nunca leu algo semelhante, no que concerne à forma, podemos confirmar a novidade da proposta de William Maxwell: conduzir seu narrador da ignorância ao pleno domínio da situação e dos envolvidos, direta ou indiretamente, no assassinato. Como jornalista, Maxwell utiliza o narrador partindo de informações reais, no universo da ficção, sobre o assassinato.
E, como escritor, se apropria dos recursos artísticos, em que tudo é possível, para soltar a imaginação sobre o crime. Nessa investida, em que o narrador reconstitui as cenas de sua memória, o autor nos dá alguns conselhos para não confiar, integralmente, no relato, pois “ao falar do passado, mentimos a cada respiração”.
Na mistura de realidade e imaginação, Maxwell abre o jogo com o leitor: “Se alguma parte da mescla de verdade e ficção que virá a seguir parecer pouco convincente ao leitor, ele tem minha permissão para desconsiderá-la”. Ignorando ou não o convite do literato, “Até mais, vejo você amanhã” é uma saborosa leitura.
William Maxwell, morto em 2000, publicou, ao todo, doze livros: seis romances, três volumes de contos, um de memórias, um de literatura infantil e outro reunindo seus melhores artigos. Durante quatro décadas, ele trabalhou como editor da prestigiosa revista New Yorker, dedicada à literatura, música, teatro e artes plásticas.
No cargo, mantinha contato constante com críticos de arte e literatos, e veiculou, na revista, textos escritos por J. D. Salinger e Vladimir Nabokov. Talvez por influência do jornalismo, William Maxwell absorveu a concisão e a clareza em sua escrita. Em “Até mais, vejo você amanhã”, o autor explora a narrativa límpida, rápida, descrevendo as cenas com detalhes essenciais.
Publicado originalmente em 1980, o livro venceu o National Book Award e a Howells Medal da Academia Americana de Artes e Letras. A história se passa na década de 1920, na zona rural de Lincoln, no Estado de Illinois, num ambiente extremamente pacato. E, mesmo com a ausência de violência no local, o meeiro Lloyd Wilson é assassinado com um tiro de pistola.
Maxwell, felizmente, não investe no enredo policial. Sua proposta é mais elaborada. Cinquenta anos depois do crime, um homem passa a reconstituir o enredo, os personagens e o espaço daquele momento. Esse homem – o narrador –, na época do crime, era um amigo muito próximo do filho do assassino. Mas, depois da tragédia, os dois se separaram e nunca mais trocaram palavras entre si.
A reconstituição dos ambientes familiares, das residências e das tensões nas famílias do assassino e do assassinado, dois vizinhos de fazenda, se dá por meio da criatividade no narrador, que não teve acesso aos mínimos detalhes ou às conversas entre os personagens.
Ele recompõe, então, sobre o motivo da tragédia, que seria o caso extraconjugal da mulher do assassino com Lloyd Wilson, o meeiro assassinado. Após observar seu casamento ir por água abaixo, o assassino entra num estado de loucura e dispara contra o seu vizinho, amigo e traidor.
Da ignorância ao domínioQuando John Updike escreve que nunca leu algo semelhante, no que concerne à forma, podemos confirmar a novidade da proposta de William Maxwell: conduzir seu narrador da ignorância ao pleno domínio da situação e dos envolvidos, direta ou indiretamente, no assassinato. Como jornalista, Maxwell utiliza o narrador partindo de informações reais, no universo da ficção, sobre o assassinato.
E, como escritor, se apropria dos recursos artísticos, em que tudo é possível, para soltar a imaginação sobre o crime. Nessa investida, em que o narrador reconstitui as cenas de sua memória, o autor nos dá alguns conselhos para não confiar, integralmente, no relato, pois “ao falar do passado, mentimos a cada respiração”.
Na mistura de realidade e imaginação, Maxwell abre o jogo com o leitor: “Se alguma parte da mescla de verdade e ficção que virá a seguir parecer pouco convincente ao leitor, ele tem minha permissão para desconsiderá-la”. Ignorando ou não o convite do literato, “Até mais, vejo você amanhã” é uma saborosa leitura.
Publicada em O Diário.
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