Novo livro do escritor baiano, “O albatroz azul” remete ao seu clássico “Sargento Getúlio” e traz boas doses de humor e lirismo
Enquanto todos acreditam no nascimento de mais uma mulher, Tertuliano Jaburu está convencido: será um homem, será o seu primeiro neto. Em sigilo, providencia roupas azuis para vestir, com dignidade, o novo integrante da família. Afinal, macho que é macho não pode, jamais, nascer de roupa rosa, pois “sempre estarão sujeitos a ouvir dos desafetos a frase acabrunhante: ‘tu nasceste de cor-de-rosa, infeliz, cala tua boca’”.
É com o nascimento de Raymundo Penaforte, nome cuidadosamente providenciado pelo avô, Tertuliano, que João Ubaldo Ribeiro inicia seu novo romance, “O albatroz azul”. Nas 236 páginas, o baiano compõe sobre os personagens da Ilha de Itaparica, local onde o escritor nasceu e escolheu para eternizar em algumas de suas obras, como “Viva o povo brasileiro”.
A vida, em “O albatroz azul”, é o tema inicial. A morte, porém, logo aparece na história. Além de estar certo sobre o sexo da criança, o personagem Tertuliano Jaburu tem a certeza de que vai morrer em pouco tempo. Assim, aproveita para providenciar os detalhes do batizado de seu neto e trocar as últimas palavras com os amigos e algumas pessoas que admira, mas nunca teve oportunidade de conhecer pessoalmente.
Ao leitor de João Ubaldo é praticamente impossível não aproximar “O albatroz azul” de “Sargento Getúlio”, livro que já é considerado um clássico da literatura brasileira contemporânea. Escrito em 1971, quando o escritor baiano tinha apenas 30 anos, “Sargento Getúlio” reflete a lealdade e a determinação do anti-herói Getúlio Santos Bezerra, que trabalha como capanga de um influente coronel. Na história, Getúlio cumpre a ordem de transportar um prisioneiro político entre duas cidades, mas, durante o trajeto, a situação muda: se entregar o preso, conforme o combinado, seu chefe não assumirá a responsabilidade pelo sequestro e ordenará que seu capanga seja morto. Mesmo sendo avisado por outras pessoas de que será assassinado caso consiga cumprir a missão, o leal sargento Getúlio não abandona seus planos. A morte? Não importa. Ele insiste em honrar a promessa feita ao chefe.
Dessa forma, tanto em “Sargento Getúlio” quanto em “O albatroz azul”, o personagem principal segue em direção à morte, sem medo, desespero ou agonia. É possível comparar o enredo dos dois livros, mas não a linguagem de João Ubaldo. Enquanto a escrita do clássico é intensa e caótica, em sua nova obra a opção é por uma narrativa serena, pausada, mas jamais entediante.
As variações linguísticas, apropriadas pelo autor baiano, permeiam as páginas de “O albatroz azul”. Na fala dos personagens da Ilha de Itaparica, o escritor retoma sua característica mais forte: o bom humor. Seja nos divertidos ditados populares, construídos sempre com rimas interessantes e nas situações peculiares vividas pelos personagens, o livro garante sorrisos ao leitor.
E arrancar sorrisos inesperados é um dos maiores talentos de João Ubaldo. Claro que ele não é sempre bem sucedido. Em seu último livro de crônicas, “O rei da noite”, cinco ou quatro histórias são realmente boas, entre elas “Alpiste para as rolinhas” – que mostra um inusitado costume do vizinho de João Ubaldo, o recluso escritor Rubem Fonseca . As outras três dezenas de histórias são indiferentes, com sátiras e enredos fracos.
Felizmente, esse não é o caso de “O albatroz azul”. Aqui, o escritor baiano aponta para os mistérios e as questões da vida e da morte, sem perder o lirismo e o humor.
É com o nascimento de Raymundo Penaforte, nome cuidadosamente providenciado pelo avô, Tertuliano, que João Ubaldo Ribeiro inicia seu novo romance, “O albatroz azul”. Nas 236 páginas, o baiano compõe sobre os personagens da Ilha de Itaparica, local onde o escritor nasceu e escolheu para eternizar em algumas de suas obras, como “Viva o povo brasileiro”.
A vida, em “O albatroz azul”, é o tema inicial. A morte, porém, logo aparece na história. Além de estar certo sobre o sexo da criança, o personagem Tertuliano Jaburu tem a certeza de que vai morrer em pouco tempo. Assim, aproveita para providenciar os detalhes do batizado de seu neto e trocar as últimas palavras com os amigos e algumas pessoas que admira, mas nunca teve oportunidade de conhecer pessoalmente.
Ao leitor de João Ubaldo é praticamente impossível não aproximar “O albatroz azul” de “Sargento Getúlio”, livro que já é considerado um clássico da literatura brasileira contemporânea. Escrito em 1971, quando o escritor baiano tinha apenas 30 anos, “Sargento Getúlio” reflete a lealdade e a determinação do anti-herói Getúlio Santos Bezerra, que trabalha como capanga de um influente coronel. Na história, Getúlio cumpre a ordem de transportar um prisioneiro político entre duas cidades, mas, durante o trajeto, a situação muda: se entregar o preso, conforme o combinado, seu chefe não assumirá a responsabilidade pelo sequestro e ordenará que seu capanga seja morto. Mesmo sendo avisado por outras pessoas de que será assassinado caso consiga cumprir a missão, o leal sargento Getúlio não abandona seus planos. A morte? Não importa. Ele insiste em honrar a promessa feita ao chefe.
Dessa forma, tanto em “Sargento Getúlio” quanto em “O albatroz azul”, o personagem principal segue em direção à morte, sem medo, desespero ou agonia. É possível comparar o enredo dos dois livros, mas não a linguagem de João Ubaldo. Enquanto a escrita do clássico é intensa e caótica, em sua nova obra a opção é por uma narrativa serena, pausada, mas jamais entediante.
As variações linguísticas, apropriadas pelo autor baiano, permeiam as páginas de “O albatroz azul”. Na fala dos personagens da Ilha de Itaparica, o escritor retoma sua característica mais forte: o bom humor. Seja nos divertidos ditados populares, construídos sempre com rimas interessantes e nas situações peculiares vividas pelos personagens, o livro garante sorrisos ao leitor.
E arrancar sorrisos inesperados é um dos maiores talentos de João Ubaldo. Claro que ele não é sempre bem sucedido. Em seu último livro de crônicas, “O rei da noite”, cinco ou quatro histórias são realmente boas, entre elas “Alpiste para as rolinhas” – que mostra um inusitado costume do vizinho de João Ubaldo, o recluso escritor Rubem Fonseca . As outras três dezenas de histórias são indiferentes, com sátiras e enredos fracos.
Felizmente, esse não é o caso de “O albatroz azul”. Aqui, o escritor baiano aponta para os mistérios e as questões da vida e da morte, sem perder o lirismo e o humor.
Publicada em O Diário.
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