quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Volta pra vê, desgraçado!

Cê desgraçou a minha vida, Antônio
Nunca tão infeliz
De casa não saio mais
Larguei cigarro, cerveja, o emprego de empregada
Só vou pro 14 Bis nas noites de sexta
Ninguém nunca entendeu
Os beijos no Bar do Vandir
Depois, na mesma noite, os disparos no meu peito
Sete tiros não me apagaram
Pensa que não lembro?
Cê cuspindo no meu corpo:
Moisés catarrando no Mar Vermelho
Levaram flor e bombom no Hospital
Não sei quem, sem nenhum bilhete
A justiça pegou as crianças
Querer de volta é impossível
Acharam as agulhas espalhadas no meu quarto
Os craquinhos e a erva em cima da geladeira
Mas não encontraram os três canos enferrujados no armário
Dos vizinhos escutaram a denúncia
Que o seu chicote arrebentava minha costa
Pior do que cavalo
Inventaram que as crianças também surradas com chicote
Enquanto eu ria e segurava uma por uma
A penitência do dia, de segunda a segunda
Tô orando na Igreja da Graça de Deus
Duas quadras daqui de casa
Jesus entrou de novo em minha vida
Daqui não sai tão fácil
Aliviou meus horrores, sonhos bons me acontecem
Joguei fora toda erva, todo crack
Vendi suas roupas pra Maria
Bem guardado o dinheiro do último assalto
Volta pra vê o que te acontece, desgraçado:
Três canos esperando a sua morte

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