domingo, 2 de janeiro de 2011

Os melhores livros de 2010

"Em Alguma Parte Alguma", do Gullar, é o melhor livro do ano

Quem aprecia a boa literatura não tem do que reclamar neste 2010. A produção literária foi extremamente bem produzida nos gêneros conto, romance e poesia. No panorama nacional, os livros mais esperados foram "Um Erro Emocional", do curitibano Cristovão Tezza, e "Em Alguma Parte Alguma", do poeta maranhense Ferreira Gullar.

As duas obras estavam previstas para serem lançadas no final de 2009, mas só chegaram às livrarias no segundo semestre. Alívio para os leitores de Gullar.

O autor de "Poema Sujo" (1976) não publicava um livro de versos inéditos há onze anos. Forte candidato a melhor livro do ano em todos os prêmios literários de 2011, "Em Alguma Parte Alguma" é um livro delicado e mostra o poder das palavras do maior poeta brasileiro vivo, versando sobre morte e o cotidiano. Na obra, Ferreira Gullar faz referências ao escritor austríaco Rainer Marie Rilke e dedica meia dúzia de poemas ao seu gatinho de estimação.

Já o curitibano Cristovão Tezza também saciou a curiosidade de seus leitores que, desde "O Filho Eterno" (2007), estavam curiosos para acompanhar seu próximo romance. Numa história de amor, escrita em linguagem límpida e ritmo narrativo veloz, Cristovão Tezza retomou os temas que marcaram suas obras passadas, como "Uma Noite em Curitiba" (1995) e "O Fotógrafo" (2004), e traz para a ficção as tensões dos relacionamentos conjugais.

De Curitiba, Dalton Trevisan mostrou que não perdeu a forma. Aos 84, continua lançando um livro por ano. Desta vez, o "Vampiro de Curitiba" saiu à tona com "Desgracida", investindo em contos curtíssimos, retratando marginais, ladrões, traficantes e prostitutas. Um dos pontos mais peculiares da obra é a inusitada seção que reúne sua correspondência particular. Nas más traçadas linhas de Dalton Trevisan, ele debocha de Guimarães Rosa e decreta que Machado de Assis é o maior contista brasileiro.

Considerado o melhor contista brasileiro, Dalton Trevisan foi o tema da obra de outro paranaense, o escritor Miguel Sanches Neto, de Ponta Grossa. Em "Chá das Cinco com o Vampiro", Miguel Sanches Neto romanceou sua relação com Dalton Trevisan e o retratou de forma cruel. Na obra, o autor fala mal de Dalton, como sujeito e escritor.

A obra, em si, é ruim. Mas é, de fato, um livro histórico na literatura nacional. Ele conseguiu mostrar, pela primeira vez, detalhes sobre a rotina e a vida pessoal do mais recluso escritor brasileiro de todos os tempos. Em troca, foi chamado de "hiena papuda" pelo curitibano e seu livro foi duramente rechaçado no círculo dos escritores.

Entre os novos poetas, os destaques deste ano são os paulistas Fabrício Corsaletti, com "Esquimó", e Alberto Martins, que publicou "Em Trânsito". Ambos publicados pela Companhia das Letras, comprovam que a poesia contemporânea no Brasil tem voz própria e está sólida, mesmo quando comparada ao universo literário de outros países, como Argentina e Alemanha.

Estrangeiros

Dos nomes internacionais, o ano de 2010 teve boas surpresas. O norte-americano Philip Roth, pela primeira vez em sua trajetória, escreveu sobre a relação de um casal de lésbicas, compondo, em "A Humilhação", personagens perturbadas psicologicamente.

Conterrâneo de Roth, Paul Auster fez bonito em "Invisível". Provocou a sociedade estadunidense com uma relação incestuosa entre irmãos e fez uma bela história de amor, em clima de suspense , numa narrativa ágil.

Com "Verão", o sul-africano J. M. Coetzee mostrou uma verve bem humorada ao romancear sua própria biografia a partir das perspectivas das mulheres com as quais se envolveu.

Confira a lista:

Em Alguma Parte Alguma

Ferreira Gullar

Editora José Olympio
Aos 80 anos, o poeta maranhense compõem poemas viscerais sobre a morte, o cotidiano e o amor

Um Erro Emocional

Cristovão Tezza

Editora Record

Uma narrativa delicada e ágil sobre o envolvimento amoroso de um escritor consagrado com sua leitora

Desgracida

Dalton Trevisan
Editora Record
Em contos pequenos, o "Vampiro de Curitiba" dá espaço a ladrões e prostitutas. Na seção de cartas, critica Guimarães Rosa

Invisível

Paul Auster
Editora Companhia das Letras
Com um enredo provocador, o escritor norte-americano escreve sobre incesto e compõe uma bela história de amor e suspense

O Albatroz Azul

João Ubaldo Ribeiro
Editora Companhia das Letras
Neste romance breve, o escritor baiano volta a mitificar a ilha de Itaparica e escreve uma delicada história sobre a vida e a morte

A Humilhação

Philip Roth
Editora Companhia das Letras
Pela primeira vez, Philip Roth narra o envolvimento de um casal de lésbicas. A obra explora a profundidade psicológica das personagens

Verão

J. M. Coetzee
Editora Companhia das Letras
Num dos livros mais bem humorados do Nbel sul-africano, J. M. Coetzee faz seu autorretrato por meio de olhares de suas mulheres

Esquimó

Fabrício Corsaletti
Editora Companhia das Letras
Com alusões a Bob Dylan e César Vallejo, Corsaletti desponta como um dos principais nomes da poesia contemporânea no Brasil

Chá das Cinco com o Vampiro

Miguel Sanches Neto
Editora Objetiva
Escritor de Ponta Grossa levou Dalton Trevisan ao universo da ficção, criticando-o como autor decadente e um ser humano pérfido

A Morte de Matusalém

Isaac Bashevis Singer
Editora Companhia das Letras
Contos do Nobel de Literatura, morto em 1875, abordam a vida sexual de suas personagens com bom humor e final surpreendente

Em Trânsito

Alberto Martins
Editora Companhia das Letras
O escritor e artista plástico faz de São Paulo sua personagem principal e versa sobre pequenas situações do cotidiano

Nada me Faltará

Lourenço Mutarelli
Editora Companhia das Letras
Numa obra amargurada, o escritor e quadrinista paulistano narra o desaparecimento de uma família

A Arte de Tomar um Café

André Simões
Atrito Art
Com sacadas inteligentes, jornalista londrinense mostra seu ponto de vista ranzinza e, em alguns momentos, saca da manga doses de lirismo

Publicado no jornal O Diario em 1 de janeiro de 2011

Um comentário:

Fabio disse...

Caceta, Gaioto! Você tá lendo demais, poderia levar o prêmio Leitor do Ano! eu não sei se em vida conseguirei acompanhar esse chart. Parabéns pelo seu trabalho. abraço!