Hemingway confessou, em entrevista à Paris Review, que escrevia melhor quando estava apaixonado. Entre 1914 e 1916, na Primeira Guerra Mundial, Appolinaire inspirou-se em Lou, uma de suas musas, para escrever alguns dos versos mais belos de toda a sua produção literária. As canções de Bob Dylan e o seu engajamento político não seriam os mesmos sem Suze Rotolo – a garota da capa do “Freewheelin”. O amor nunca moveu montanhas, mas sua colaboração à literatura, às artes, é incalculável. E me pego dizendo isso em voz alta, um pouco bêbado, na mesa do Salero, com a mesma fúria que um xiita religioso recita trechos aleatórios da bíblia.
Ela não acredita no amor. Me pergunta sobre as mulheres que naveguei. Quer saber se sou fiel. Quantas vezes traído, essas coisas. Não tenho segredos com ela. Já dediquei alguns poemas de amor a algumas mulheres que amei. Há algumas mulheres que amei, mas que me guardei ao direito de não escrever verso algum. Algumas mulheres levaram mais do que um punhado de versos. Levaram noites de cachaças, cervejas, juras de amor eterno e fidelidade que não se concretizaram. Algumas mulheres quase acabaram com a minha vida. Algumas mulheres desejam a minha morte, comento, enquanto ela exibe aquela covinha do lado esquerdo.
Ela está pedindo uma cachaça da casa, pergunta por que tantas mulheres nos seus poemas? Tudo isso é mesmo verdade? Só respondo que tudo é real no universo da ficção, que o amor não é uma desocupação dos desocupados, mas que estou com Hemingway. Escrevo melhor quando apaixonado. E não só os escritores escrevem melhor - lá estou apontando o copo de cerveja na direção dela.
Tenho certeza que Arvo Pärt compôs Spigel im Spigel completamente apaixonado. Os quadros são mais intensos quando apaixonados. Faço uma pausa. É por isso que chorei durante quarenta e cinco minutos na frente de Modigliani. Já vi Rembrandt, Picasso, Van Gogh, mas nada se compara a Amadeo Modigliani, que me nocauteou com apenas três quadros na parede. Os seguranças me olhavam estranho, as pessoas pareciam preocupadas, e eu permanecia atordoado, chorando na frente de Modigliani no meio do museu. Aquilo, continuo, não era uma obra de arte. Era o amor em forma de obra de arte.
É engraçado. Com ela na minha frente, penso que os quadros de Modigliani não têm importância alguma. São chatos e tediosos, os pescoços de Modigliani. Sinto pena de Modigliani, que não conheceu ela, que não está nessa mesa bebendo com ela. Não consigo pintar um quadro como Modigliani, não componho como Bob Dylan ou Arvo Pärt. Só quero escrever poemas para ela, quero morrer olhando para ela, quero que ela nunca mais desapareça da minha vida.
Ela não acredita no amor. Me pergunta sobre as mulheres que naveguei. Quer saber se sou fiel. Quantas vezes traído, essas coisas. Não tenho segredos com ela. Já dediquei alguns poemas de amor a algumas mulheres que amei. Há algumas mulheres que amei, mas que me guardei ao direito de não escrever verso algum. Algumas mulheres levaram mais do que um punhado de versos. Levaram noites de cachaças, cervejas, juras de amor eterno e fidelidade que não se concretizaram. Algumas mulheres quase acabaram com a minha vida. Algumas mulheres desejam a minha morte, comento, enquanto ela exibe aquela covinha do lado esquerdo.
Ela está pedindo uma cachaça da casa, pergunta por que tantas mulheres nos seus poemas? Tudo isso é mesmo verdade? Só respondo que tudo é real no universo da ficção, que o amor não é uma desocupação dos desocupados, mas que estou com Hemingway. Escrevo melhor quando apaixonado. E não só os escritores escrevem melhor - lá estou apontando o copo de cerveja na direção dela.
Tenho certeza que Arvo Pärt compôs Spigel im Spigel completamente apaixonado. Os quadros são mais intensos quando apaixonados. Faço uma pausa. É por isso que chorei durante quarenta e cinco minutos na frente de Modigliani. Já vi Rembrandt, Picasso, Van Gogh, mas nada se compara a Amadeo Modigliani, que me nocauteou com apenas três quadros na parede. Os seguranças me olhavam estranho, as pessoas pareciam preocupadas, e eu permanecia atordoado, chorando na frente de Modigliani no meio do museu. Aquilo, continuo, não era uma obra de arte. Era o amor em forma de obra de arte.
É engraçado. Com ela na minha frente, penso que os quadros de Modigliani não têm importância alguma. São chatos e tediosos, os pescoços de Modigliani. Sinto pena de Modigliani, que não conheceu ela, que não está nessa mesa bebendo com ela. Não consigo pintar um quadro como Modigliani, não componho como Bob Dylan ou Arvo Pärt. Só quero escrever poemas para ela, quero morrer olhando para ela, quero que ela nunca mais desapareça da minha vida.
2 comentários:
Qeuria que alguém se apaixonasse assim por mim.
Beijoookas! Raisa
um dos seus melhores. gosto da sua lirica e do modo como fala de amor. piegas no ponto certo e dolorido acima da medida.
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