Minha mãe, 87 anos.
Há dois nesse vai não vai.
Quantas vezes no HU?
Comida só de aviãozinho.
Consegui a cadeira emprestada.
Perdi o emprego no supermercado.
Ninguém aguentava eu saindo sempre pro HU.
O gerente chegou a duvidar.
Sua mãe doente de novo?
E lá vou eu com atestado assinado.
Um ano tudo bem.
No outro me botaram na rua.
Eu e minha mãe de 87 anos.
O namorado me deixou.
Baiano, tão bom, queria casamento.
Homem de igreja, sério, trabalhador.
Ou sua mãe ou eu!
O que você faria?
Banho só comigo.
E quando ela começava a brincar?
Me jogar água?
De birra não levantava o braço.
Me chamava de Eugênio.
Se apertava toda contra a parede.
Eu com a esponja na mão, a água escorrendo.
Chorando.
Ela ria.
Parecia coisa do demônio.
A conta sempre infernal no fim do mês.
De vez em quando recusava comida.
Não abria a boca de jeito nenhum.
O mesmo acontecia com o remédio.
Só eu virar as costas.
Que ela cuspia longe.
Tudo isso rindo de mim.
Dois anos essa a minha rotina.
Passear com ela na rua.
Ouvir no rádio a missa do padre Zezinho.
Aviãozinho de comida.
Vendendo vassoura e alho no Borba Gato.
Olha vassoura e alho!
De casa em casa.
E pensando na mãe.
Eu tava na cozinha ouvindo o padre Zezinho.
Ouvi os dentes tremendo.
Os pezinhos bateram na cadeira de rodas.
Menos de trinta segundos.
Desliguei o rádio.
Fui até o quarto.
Sem espiar fechei a porta.
Assoviei a musiquinha da Globo.
Aquela de fim de ano.
Peguei a bolsa e fechei o portão de casa.
Com o cartão quase acabando, liguei da esquina pro Baiano:
Nunca é tarde pra correr atrás do grande amor.
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3 comentários:
Se eu disser que ri tenho passagem garantida pro inferno? Muito bom, Gaioto, excelente!
bunito de verdade!
O Baiano já deve ter casado umas 3 vezes no minimo nesses 2 anos, só esperando a velha dar entrada no inferno...rsrs.
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