O recluso milionário maringaense Juarez Arantes, 73 anos, que há mais de uma década mora no hotel Deville, agora tem um novo capítulo para a sua biografia folclórica, repleta de silêncios, excentricidades e histórias rocambolescas. Sob a justificativa de que Juarez estaria fumando no quarto, o Deville entrou com uma ação de rescisão de contrato, no final do ano passado, exigindo a desocupação da suíte 427, no 4º andar, ocupada há 16 anos pelo milionário maringaense. Segundo o hotel, desde fevereiro de 2014 todas as instalações da empresa seguem o padrão 100% não fumante, e, mesmo consciente da mudança do regulamento, o hóspede teria ignorado essas determinações. Levando em conta as reclamações de hóspedes que, segundo o Deville, se queixam do mau cheiro no corredor do 4º andar, o juiz Fábio Bergamin Capela, da 5ª Vara Cível, concedeu liminar ao hotel, em novembro do ano passado, e estabeleceu o prazo de 15 dias para Juarez debandar de lá, com multa diária de R$ 1 mil, caso descumprisse a ordem. Determinado a todo custo a permanecer no Deville, Juarez recorreu ao Tribunal de Justiça do Paraná. Ao analisar o caso, a desembargadora Denise Kruger Pereira considerou que existe toda uma relação de anos entre o hotel e o hóspede, e suspendeu a decisão de desocupação imediata. Conclusão da noveleta? Pelo menos por enquanto, o quarto de Juarez está garantido por decisão judicial.
O rolo em que o nosso ilustre argentário foi se meter, trazendo à tona seu nome e exibindo seu desejo um tanto inusitado, levantou uma série de questões: 1) Por que um sujeito como ele, com verba de sobra para morar em qualquer lugar do planeta (Leblon, Cuba, Hong Kong), faz tanta questão de permanecer, sozinho e recluso, numa suíte de 28,20 metros quadrados do Deville, com vista para a Avenida Tiradentes?; 2) É fato ou lenda esse papo de que ele mesmo dirige o próprio carro, um Del Rey preto – já que não faltariam economias para contratar um talentoso motorista ou adquirir um carrinho mais moderno?; 3) Quais os detalhes da queda do seu avião, quando, em tenra idade – e pilotando a aeronave! –, teria feito um pouso forçado, no meio da Amazônia, evitando o desastre aéreo e saindo de lá vivinho da silva? 4) Qual bebida negra e misteriosa ele carrega na garrafinha de guaraná Caçulinha, de 237 ml?; 5) E, afinal de contas, como ele conseguiu acumular tanta grana – teria um e outro conselho para o resto do povão, malditos diabos afaimados que sonham com os dias de fortuna, epifanias e levitações?
Para escarafunchar essas e outras respostas, fui atrás do impossível: tentar uma entrevista com Juarez Arantes, o homem que foge dos jornalistas e raramente permite ser fotografado. Na frente do hotel, descubro que seu nome está na boca do povo. "Se você quiser encontrá-lo, é só ficar aqui. Que ele sempre passa com o Del Rey preto", comenta um senhorzinho de uns 70 anos. Então é verdade: ele tem mesmo um Del Rey preto. Que figura. "Deve ser para não chamar a atenção de sequestrador, né?", sugere o aposentado. No reduto de Juarez Arantes, seu nome não é conhecido apenas pela melhor idade. "Sempre vejo ele sozinho, aqui na calçada, fumando um cigarro atrás do outro", dedura a jovem funcionária de uma loja de roupas, debaixo do hotel. "Todos sabem que ele é milionário e mora há uns vinte anos no hotel, né? Ele é alto, tem 'mullets' (corte de cabelo que fez sucesso nos anos noventa, tipo Chitãozinho & Xororó) e anda com a barra da calça dobrada até a canela. É até engraçado de ver", descreve. Nas ruas, nem todo mundo acha que Juarez faz um bom negócio ao continuar em Maringá. Se pudesse escolher, a estudante Annelise Nocchi, 14, já estaria a milhas e milhas distante da esquina da Tiradentes. "Mesmo com 73 anos, eu estaria em Floripa, curtindo praia e balada, numa hora dessas", comenta, com uma boa risada.
Vou entrando no hotel. Funcionários taciturnos me encaram. O berro de uma criança explode no saguão do Deville. Miles Davis entoa "Summertime": o mais lírico e intenso dos trompetistas. Eu gostaria de falar com o Juarez Arantes, vou explicando ao sujeito da recepção. De terno preto e cabelo cheio de gel, o funcionário parece medir cada palavra. "Ele não se encontra. Saiu há algumas horas." Tento sondar, em vão, seus horários e destino. "Ele não tem horário fixo." Indago se Juarez costuma receber parentes ou amigos. Ele olha bem para a minha cara. Sinto que nossa conversa acabou. "Nunca vi alguém da família dele. Nem amigos. Mas não posso falar mais sobre ele. É questão de ética. Se o senhor quiser esperar ou deixar um recado, sinta-se à vontade." Resolvo ficar. Escolho um dos sofás com vista para a porta de entrada. São quase cinco horas da tarde.
O rolo em que o nosso ilustre argentário foi se meter, trazendo à tona seu nome e exibindo seu desejo um tanto inusitado, levantou uma série de questões: 1) Por que um sujeito como ele, com verba de sobra para morar em qualquer lugar do planeta (Leblon, Cuba, Hong Kong), faz tanta questão de permanecer, sozinho e recluso, numa suíte de 28,20 metros quadrados do Deville, com vista para a Avenida Tiradentes?; 2) É fato ou lenda esse papo de que ele mesmo dirige o próprio carro, um Del Rey preto – já que não faltariam economias para contratar um talentoso motorista ou adquirir um carrinho mais moderno?; 3) Quais os detalhes da queda do seu avião, quando, em tenra idade – e pilotando a aeronave! –, teria feito um pouso forçado, no meio da Amazônia, evitando o desastre aéreo e saindo de lá vivinho da silva? 4) Qual bebida negra e misteriosa ele carrega na garrafinha de guaraná Caçulinha, de 237 ml?; 5) E, afinal de contas, como ele conseguiu acumular tanta grana – teria um e outro conselho para o resto do povão, malditos diabos afaimados que sonham com os dias de fortuna, epifanias e levitações?
Para escarafunchar essas e outras respostas, fui atrás do impossível: tentar uma entrevista com Juarez Arantes, o homem que foge dos jornalistas e raramente permite ser fotografado. Na frente do hotel, descubro que seu nome está na boca do povo. "Se você quiser encontrá-lo, é só ficar aqui. Que ele sempre passa com o Del Rey preto", comenta um senhorzinho de uns 70 anos. Então é verdade: ele tem mesmo um Del Rey preto. Que figura. "Deve ser para não chamar a atenção de sequestrador, né?", sugere o aposentado. No reduto de Juarez Arantes, seu nome não é conhecido apenas pela melhor idade. "Sempre vejo ele sozinho, aqui na calçada, fumando um cigarro atrás do outro", dedura a jovem funcionária de uma loja de roupas, debaixo do hotel. "Todos sabem que ele é milionário e mora há uns vinte anos no hotel, né? Ele é alto, tem 'mullets' (corte de cabelo que fez sucesso nos anos noventa, tipo Chitãozinho & Xororó) e anda com a barra da calça dobrada até a canela. É até engraçado de ver", descreve. Nas ruas, nem todo mundo acha que Juarez faz um bom negócio ao continuar em Maringá. Se pudesse escolher, a estudante Annelise Nocchi, 14, já estaria a milhas e milhas distante da esquina da Tiradentes. "Mesmo com 73 anos, eu estaria em Floripa, curtindo praia e balada, numa hora dessas", comenta, com uma boa risada.
Vou entrando no hotel. Funcionários taciturnos me encaram. O berro de uma criança explode no saguão do Deville. Miles Davis entoa "Summertime": o mais lírico e intenso dos trompetistas. Eu gostaria de falar com o Juarez Arantes, vou explicando ao sujeito da recepção. De terno preto e cabelo cheio de gel, o funcionário parece medir cada palavra. "Ele não se encontra. Saiu há algumas horas." Tento sondar, em vão, seus horários e destino. "Ele não tem horário fixo." Indago se Juarez costuma receber parentes ou amigos. Ele olha bem para a minha cara. Sinto que nossa conversa acabou. "Nunca vi alguém da família dele. Nem amigos. Mas não posso falar mais sobre ele. É questão de ética. Se o senhor quiser esperar ou deixar um recado, sinta-se à vontade." Resolvo ficar. Escolho um dos sofás com vista para a porta de entrada. São quase cinco horas da tarde.
Sem linguiça nem balada
Do hotel, ligo para Helington Lopes, vocalista do Receita do Samba e proprietário da Casa de Bamba. De 1997 a 2002, ele assumia a trilha, aos sábados, das temporadas da tradicional feijoada do Deville, evento que reunia ícones da alta sociedade maringaense. Numa dessas, ele tem algum relato sobre o Juarez. Bem-humorado, o sambista abriu o jogo. "Fui apresentado ao Juarez há quinze anos, por um amigo em comum. Na hora, me disseram que ele era o homem com o maior número de imóveis em Maringá. Depois, nunca mais o vi. E ele nunca foi sambar na minha Casa de Bamba", comentou. Nas feijoadas do Deville, Helington nunca flagrou Juarez se refestelando com samba, cerveja e feijoada completa. "Acho que ele não gosta desse tipo de coisa. Mas lembro de uma coisa engraçada. Um dia, cheguei para tocar e estacionei meu carro numa das vagas do hotel. Mal desci, o manobrista mandou eu tirar o carro de lá, dizendo que a vaga tinha dono. Depois do show, quando fui ver, tinha um Del Rey preto naquela vaga. Achei estranho. Daí me disseram: aquela era a vaga do Juarez", lembra, aos risos.
Meia hora depois, nada do nosso milionário maringaense. Resolvo caçar novos relatos. Vejo um ponto de táxi: dois carros parados, do outro lado da rua. É lá. Todo taxista tem alguma história – no caso de Juarez, várias. "É o homem mais rico de Maringá. As terras lá perto do aeroporto, sabe? Tudo dele. E aquela área abandonada da Mauá até a Colombo, sabe, ali, onde era a Sanbra? Aquele terrenão inteirinho é todo dele. Sem falar nas fazendas em Mato Grosso, Tocantins, Bahia, Goiás... meu deus, é terra pelo País inteiro", diz um dos taxistas.
Meia hora depois, nada do nosso milionário maringaense. Resolvo caçar novos relatos. Vejo um ponto de táxi: dois carros parados, do outro lado da rua. É lá. Todo taxista tem alguma história – no caso de Juarez, várias. "É o homem mais rico de Maringá. As terras lá perto do aeroporto, sabe? Tudo dele. E aquela área abandonada da Mauá até a Colombo, sabe, ali, onde era a Sanbra? Aquele terrenão inteirinho é todo dele. Sem falar nas fazendas em Mato Grosso, Tocantins, Bahia, Goiás... meu deus, é terra pelo País inteiro", diz um dos taxistas.
Bebida misteriosa
De acordo com o outro taxista, que acompanha a conversa, Juarez não administra, sozinho, os seus mil e um negócios. O milionário maringaense teria dois advogados para ajudá-lo com a burocracia e as contas todas. "Eles são dois jovens. Quase sempre estão de terno. E entram e saem do hotel."
Uma de suas peculiaridades, diz o taxista, é a bebida que ele carrega para lá e para cá, como se fosse uma extensão de seu corpo. "É que ele fuma demais e gosta de rebater o cigarro com goles de café. Por isso, o Juarez anda sempre com uma garrafinha de guaraná Caçulinha, cheia de café", detalha. Então é isso: eis a misteriosa bebida negra, um café especial. "Ele joga bastante café com açúcar e mexe tudo. Aquilo dever ser forte. Acho que dura o dia inteiro."
Deixo os taxistas em paz e volto para o Deville. É preciso ficar atento: Juarez pode voltar a qualquer instante. No Dixie Bar, pergunto pelo nosso milionário. Seca e lacônica, a funcionária responde que "não tem autorização para falar sobre esse hóspede". E do outro lado do bar, uma mulher, ruiva, me lança uns olhares aflitos, um bocado nervosos.
Uma de suas peculiaridades, diz o taxista, é a bebida que ele carrega para lá e para cá, como se fosse uma extensão de seu corpo. "É que ele fuma demais e gosta de rebater o cigarro com goles de café. Por isso, o Juarez anda sempre com uma garrafinha de guaraná Caçulinha, cheia de café", detalha. Então é isso: eis a misteriosa bebida negra, um café especial. "Ele joga bastante café com açúcar e mexe tudo. Aquilo dever ser forte. Acho que dura o dia inteiro."
Deixo os taxistas em paz e volto para o Deville. É preciso ficar atento: Juarez pode voltar a qualquer instante. No Dixie Bar, pergunto pelo nosso milionário. Seca e lacônica, a funcionária responde que "não tem autorização para falar sobre esse hóspede". E do outro lado do bar, uma mulher, ruiva, me lança uns olhares aflitos, um bocado nervosos.
Bond girl
Ela ouviu minha conversa com a funcionária e, de longe, me acompanha voltando para o sofá. No som do Deville, Bob Dylan entoa "Jokerman": bendito gênio fanhoso. Alguém comenta algo sobre o jogo do final de semana. E a mulher continua me olhando. Sou míope como uma toupeira, levo um bom tempo para reconhecer que ela está piscando o olho direito para mim, como se tivesse espasmos musculares. Abro um sorriso. Ela para de piscar e, muito seriamente, balança a cabeça e as sobrancelhas, indicando a frente do hotel. A ruiva misteriosa se levanta. Deve ter uns 55 anos. Vestidão preto, saltão alto e pernas e braços decorados por longas nervuras azuis – ai de mim, onde foram parar o azeite de oliveira puríssimo?, as piscinas de Hesebon?, as amorosas mênadas em bando?! Ah, deixa para lá.
"Você quer saber sobre o Juarez, né? Ouvi sua conversa. Meu irmão se hospeda no Deville há vinte anos e tive a oportunidade de almoçar e tomar o café da manhã em mesas bem pertinho dele", conta. Segundo ela, o milionário maringaense costuma tomar café às 9h. Ao meio-dia, regala-se com carne, peixe, salada: sempre sozinho. Mas há uma coisa, em especial, que ela notou durante esses anos. "Depois do almoço, ele leva seis, sete pedaços de bolos de chocolate e baunilha para comer no quarto. Como ele gosta desses bolos, viu?!", comentou a minha Bond girl tupiniquim. Mais tarde, depois de uma longa e minuciosa investigação, eu conseguiria, com exclusividade, a receita dos dois bolos favoritos do Juarez.
"Você quer saber sobre o Juarez, né? Ouvi sua conversa. Meu irmão se hospeda no Deville há vinte anos e tive a oportunidade de almoçar e tomar o café da manhã em mesas bem pertinho dele", conta. Segundo ela, o milionário maringaense costuma tomar café às 9h. Ao meio-dia, regala-se com carne, peixe, salada: sempre sozinho. Mas há uma coisa, em especial, que ela notou durante esses anos. "Depois do almoço, ele leva seis, sete pedaços de bolos de chocolate e baunilha para comer no quarto. Como ele gosta desses bolos, viu?!", comentou a minha Bond girl tupiniquim. Mais tarde, depois de uma longa e minuciosa investigação, eu conseguiria, com exclusividade, a receita dos dois bolos favoritos do Juarez.
Joba biógrafo
Às oito horas da noite, deixo um bilhete no hotel. Que atenda, ora bolas, o pedido de entrevista. Deixo meu celular e o ramal do jornal para que ele entre em contato. Sigo para o jornal. Na redação, ligo para Joba Beltrame (PV), professor aposentado e ex-candidato a prefeito de Maringá. Em 2004, ele se lançou à Prefeitura e, como vice, contou com Juarez. Certamente, Joba teria histórias interessantes. Quando descobre que estou atrás de Juarez, Joba dá uma boa risada. "Bicho, meu sonho é escrever a biografia dele!", revela.
Até biógrafos de peso, como Ruy Castro e José Castello, talvez se acovardassem diante da empreitada que seria publicar um livro sobre Juarez. Há um excesso de silêncio em tudo. Até mesmo Joba, amigão há muitos anos do milionário maringaense - e uma das pouquíssimas pessoas que têm acesso ao seu quarto -, não sabe dizer, precisamente, algumas coisas básicas, como a profissão dos pais de Juarez, a cidade em que ele nasceu, como foi sua infância e adolescência, esse tipo de coisa. Mesmo assim, com Joba é possível lançar muita luz sobre a biografia de Juarez. Nascido em Minas Gerais, ele teria vindo para Maringá com vinte e poucos anos. Aqui, começou a vender remédios na cidade e na região. Determinado a vencer na vida e fazer uma pequena fortuna, o jovem Juarez economizava todo o dinheiro que ganhava – jamais torrar em lambada, bebida, esbórnia e corrida de cavalos. Durante as viagens comerciais, em vez de pagar por uma pousada, Juarez preferia economizar uns trocados, dormindo dentro do próprio carro. Com algum tempo atuando na área, virou representante de laboratórios e foi juntando dinheiro, de pouquinho em pouquinho. "Ele comprou a primeira fazenda em Indianópolis (a 78 km de Maringá). Mas o grande salto econômico foi aos 27 anos, quando comprou a fazenda na Ilha do Bananal, em Tocantins. Porque ele comprou naquele esquema 'porteira fechada': imaginava que tinha só mil bois, mas, na verdade, tinha cinco mil bois. Foi aí que ele deu uma arrancada. Além do mais, naquela época, a carne estava hipervalorizada. A sorte também ajudou na fortuna dele", conta Joba.
"E aquela história amalucada de que Juarez, pilotando um avião, teria feito um pouso forçado, no meio da Amazônia, driblando a morte com classe?", pergunto. Joba dá outra boa risada. "Já me disseram até que ele não teria feito isso só uma vez... teriam sido duas vezes! Acredita?! Dois pousos heroicos, com ele pilotando! Mas já não dá para afirmar que isso aconteceu de verdade. O que ele me contou foi apenas um caso: no meio da Amazônia, na época em que servia o exército, antes de vir para Maringá."
Até biógrafos de peso, como Ruy Castro e José Castello, talvez se acovardassem diante da empreitada que seria publicar um livro sobre Juarez. Há um excesso de silêncio em tudo. Até mesmo Joba, amigão há muitos anos do milionário maringaense - e uma das pouquíssimas pessoas que têm acesso ao seu quarto -, não sabe dizer, precisamente, algumas coisas básicas, como a profissão dos pais de Juarez, a cidade em que ele nasceu, como foi sua infância e adolescência, esse tipo de coisa. Mesmo assim, com Joba é possível lançar muita luz sobre a biografia de Juarez. Nascido em Minas Gerais, ele teria vindo para Maringá com vinte e poucos anos. Aqui, começou a vender remédios na cidade e na região. Determinado a vencer na vida e fazer uma pequena fortuna, o jovem Juarez economizava todo o dinheiro que ganhava – jamais torrar em lambada, bebida, esbórnia e corrida de cavalos. Durante as viagens comerciais, em vez de pagar por uma pousada, Juarez preferia economizar uns trocados, dormindo dentro do próprio carro. Com algum tempo atuando na área, virou representante de laboratórios e foi juntando dinheiro, de pouquinho em pouquinho. "Ele comprou a primeira fazenda em Indianópolis (a 78 km de Maringá). Mas o grande salto econômico foi aos 27 anos, quando comprou a fazenda na Ilha do Bananal, em Tocantins. Porque ele comprou naquele esquema 'porteira fechada': imaginava que tinha só mil bois, mas, na verdade, tinha cinco mil bois. Foi aí que ele deu uma arrancada. Além do mais, naquela época, a carne estava hipervalorizada. A sorte também ajudou na fortuna dele", conta Joba.
"E aquela história amalucada de que Juarez, pilotando um avião, teria feito um pouso forçado, no meio da Amazônia, driblando a morte com classe?", pergunto. Joba dá outra boa risada. "Já me disseram até que ele não teria feito isso só uma vez... teriam sido duas vezes! Acredita?! Dois pousos heroicos, com ele pilotando! Mas já não dá para afirmar que isso aconteceu de verdade. O que ele me contou foi apenas um caso: no meio da Amazônia, na época em que servia o exército, antes de vir para Maringá."
Compreensão subliminar
"E o que ele desejava ao entrar na política, lançando-se como seu vice?", questiono. "Quando me candidatei à Prefeitura, fiz questão de convidá-lo para ser meu vice. Porque somos amigos e sempre tive grande admiração por ele. O Juarez ouve, observa muito e tem uma sabedoria natural, que ninguém sabe de onde veio. Ele vê mais longe do que os outros e entende bem o subliminar. Mas ele nunca foi muito ligado à política. Acho que só aceitou se candidatar porque se identificava comigo e porque desejava uma nova liderança na cidade, fora do esquemão de sempre", diz.
Mesmo candidato a vice-prefeito, Juarez manteve sua reclusão e não deu as caras na campanha. "Acho que ele não tinha dimensão do que poderia se aquilo", reflete. Conversando com Joba, descubro que Juarez é chegado em tangos e boleros. Fã dos bolachões, gosta de ouvir o som puríssimo em sua vitrola, sem MP3 ou outras afetações tecnológicas. Descubro que ele gosta de conversar sobre figuras históricas, como Júlio César, Alexandre Magno e Napoleão – e me pego pensando se Juarez também não seria fã do grande Tibério, que, em sua reclusão, reinou na Ilha de Capri. Pai de cinco filhos, enfrentou um casamento que rendeu divórcio. Não toma cerveja, cachaça, vodka nem uísque – só não abre mão do café com bastante açúcar na garrafinha de guaraná. Hoje, ele tem um avião, com base em Goiânia, que serve para dar um pulinho em suas tantas terras. Aos 73 anos, não se dá ao luxo de pilotá-lo: refocila-se na poltrona dos passageiros, sempre sozinho.
E lá pelas tantas me dou conta de que tenho uma vontade danada de trocar um dedo de prosa com Juarez. O isolamento, afinal, não alimenta no homem pensamentos profundos, como afirmou o velho Gógol? Quem sabe, um dia, entediado na suíte 427, Juarez resolva finalmente encerrar sua reclusão e conceder uma entrevista, no hall do hotel? Veremos. Enquanto opta pela reclusão, Juarez vai seguindo sua rotina discreta, fartando-se com bolos de baunilha e chocolate, dirigindo seu Del Rey antiostentação pelas ruas maringaenses.
Mesmo candidato a vice-prefeito, Juarez manteve sua reclusão e não deu as caras na campanha. "Acho que ele não tinha dimensão do que poderia se aquilo", reflete. Conversando com Joba, descubro que Juarez é chegado em tangos e boleros. Fã dos bolachões, gosta de ouvir o som puríssimo em sua vitrola, sem MP3 ou outras afetações tecnológicas. Descubro que ele gosta de conversar sobre figuras históricas, como Júlio César, Alexandre Magno e Napoleão – e me pego pensando se Juarez também não seria fã do grande Tibério, que, em sua reclusão, reinou na Ilha de Capri. Pai de cinco filhos, enfrentou um casamento que rendeu divórcio. Não toma cerveja, cachaça, vodka nem uísque – só não abre mão do café com bastante açúcar na garrafinha de guaraná. Hoje, ele tem um avião, com base em Goiânia, que serve para dar um pulinho em suas tantas terras. Aos 73 anos, não se dá ao luxo de pilotá-lo: refocila-se na poltrona dos passageiros, sempre sozinho.
E lá pelas tantas me dou conta de que tenho uma vontade danada de trocar um dedo de prosa com Juarez. O isolamento, afinal, não alimenta no homem pensamentos profundos, como afirmou o velho Gógol? Quem sabe, um dia, entediado na suíte 427, Juarez resolva finalmente encerrar sua reclusão e conceder uma entrevista, no hall do hotel? Veremos. Enquanto opta pela reclusão, Juarez vai seguindo sua rotina discreta, fartando-se com bolos de baunilha e chocolate, dirigindo seu Del Rey antiostentação pelas ruas maringaenses.
Os favoritos de Juarez
Cafezinho do Juarez
*Café
*Açúcar
Prepare um café caseiro, adoce a gosto e, em seguida, jogue tudo dentro de uma garrafinha de guaraná Caçulinha. Importante: se não inserir a bebida na garrafinha de guaraná, não será o legítimo café do Juarez
Bolo de baunilha
* 500 gramas de ovos
* 2 xícaras de chá de óleo
* 500 ml de leite
* 4 xícaras de açúcar
Misture tudo numa bacia. Em seguida, acrescente 6 xícaras de chá de farinha de trigo, 3 colheres de sopa de fermento e 2 colheres de sopa de baunilha. Após misturar tudo novamente, leve ao forno, em 180o, por 40 minutos. A receita, de grandes proporções, equivale a 3 formas grandes de pudim.
Bolo de chocolate
* 2 xícaras de farinha de trigo
* 2 xícaras de chá de açúcar
* 4 xícaras de chá cacau em pó
* 2 colheres de chá de bicarbonato de sódio
* 2 colheres de chá de fermento em pó
* 1 colher de chá de sal
* 1 colher de café solúvel
* 1 xícara de chá de leite
* 1/2 xícara de chá de óleo
* 2 ovos
* 2 colheres de chá de baunilha
* 1 xícara de água fervente
Junte o óleo, os ovos e a baunilha e bata tudo até ficar homogêneo. Em seguida, coloque os elementos secos (farinha, cacau, etc) e, depois, água fervente. Leve ao forno, em 180o, por trinta a quarenta minutos. Serve duas formas pequenas de pudim.
Publicado no Diário (5/4/15)
Um comentário:
Nos anos de 1974 e 1975 o Juarez gostava muito de ouvir duas músicas: Cavalo Preto e Chico Mineiro com o Tonico e Tinoco. A gente percebia em seus olhos a força com que estas duas músicas tocavam seu coração. Em todas as comemorações, na fita cassete de seus carros, estavam elas presentes. Depois de 1975 nunca mais o vi, mas mantenho com muito carinho na memória e nas minhas lembranças essa pessoa fantástica, muito família e já naquela época, enigmática. E ainda mais, com o mesmo perfil simplório que você descreve em seu artigo. Não tinha problema de sequestro na época! O Juarez pensava grande com muita humildade!
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