quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

No dia da bimbada

Só queria um trabalho honesto.
Na minha família todos do bem.
Ninguém nunca preso.
Todos honrando o nome.
A tatuagem?
Não é nada não seu moço.
Doutor.
Desculpa.
Fiz há tempo já.
Não sabia que com ela viraria marginal.
Veja meu caso.
Negro.
Anão.
Coxo.
E fanho.
Difícil até de conseguir emprego de entregador.
De ganhar sorriso das mulheres.
Com a tatoo queria ser galã sabe?
Fiquei sem emprego.
E o cara ainda cagou na tatuagem ó que horror.
Nunca paguei pra comer alguém seu doutor.
Essa daí nunca ouvi falar.
Nunca comi uma puta.
Se comesse eu pagava claro.
Tá me acusando injustamente essa mulher doutor.
Eu trabalhei naquela esquina sim.
Tomador de conta de carro com muito orgulho.
Tem que ir cedo.
Senão pegam teu lugar.
Como não sou de briga bem cedo chego.
E tenho que defender meu posto né?
Um amigo disse não vá.
Que tá violento pacas.
E nego morre de bobeira tomando conta de carro.
Mas eu já disse queria trabalho honesto.
Era o meu terceiro dia lá.
Fui na sexta.
De boa.
Um gordo apareceu.
Gordo pra cacete.
Barbudo.
Feio.
Feio que nem o cão.
Fedido.
Ensebado.
Bafão também.
Ficou bem na minha frente.
De costa.
Daí eu disse meu irmão essa esquina daqui já tem dono carai.
Tem que ser macho senão dá treta doutor.
Ele virou.
Me olhou sério avançou um passo.
Levantei.
Ele tava com camisa escrita Sepultura.
Eu louco de encarar o figura?
O anão mais corajoso de Maringá?
Eu só queria meu trabalho honesto.
Daí me olhou encarou e riu.
Riu de mim com todos os dentes.
Não entendi.
Acho que gostou da minha coragem.
O gordo do metal caiu fora sem me fazer mal.
Ah se fazia!
Me estraçalhava ali mesmo.
Fiquei um pouco com medo.
Mas não voltou lá não.
Nem no sábado ainda bem.
Naquele dia espantei uma velha.
Espantei não.
A rua ali é grande.
Que ela ficasse na rua de trás.
Ela olhou no meu olho.
Disse não seu puto anão escroto do caralho.
Eu bater na velha?
Jamais.
Mas ela tava querendo porrada.
Ah se tava.
Veio pra cima e segurei com os dois braços.
Tentou um chute a velha.
Daí eu falei isso mesmo.
Senhora não posso te bater que eu só quero trabalho honesto.
Expliquei que tava ali desde ontem e que não tinha visto ninguém ali.
Ela ficou de boa.
Foi pra rua de trás sem reclamar só depois que viu minha tatoo.
Mas saiu jurando minha morte e riu disse que eu voltasse amanhã anão escroto.
Agora o domingo foi tranquilo.
Aliás nem deveria ter ido.
Pouco movimento.
Só compensa de tarde.
Como espanquei essa moça se eu nem tava lá?
Ela diz que fez o programa comigo às quatro né?
Pois é.
Como se três horas da manhã eu já tava em casa?
Moro no Tabaetê.
Três ruas pra cima do Bar do Moacir.
Tenho conta lá.
Todo mundo me conhece.
Só posso dizer que não bati nunca em ninguém.
Não conheço essa prostituta.
Nunca vou comer uma.
Nunca precisei pagar.
Incrível isso acontecer bem no dia que conheci uma garota.
Dei uma bela bimbada.
No meio da rua.
Pra você ver que não sou tão feio como dizem.
Gostosona de saia e decote.
Chupei todinha.
Não jamais estupro nunca.
Tava andando lá perto do bairro doutor.
Tô falando mais que a verdade.
Que essa moça me encarou virou quando eu virei me deu olhar de desejo!
Cê não iria?
Sei que é crime sexo na rua.
Mas tô falando que como ia bater na puta?
Se eu nem tava no local?
Eu tava é com a gostosona!
Como?
Não sei se era maior de idade.
Deve ser.
Não conheço.
Não sei nome.
Sem telefone também.
Estupro não não não não não não não foi isso não meu Deus.
Alguém!
Cêis não tão entendendo!
Não foi contra a vontade dela não minha nossa tô falando a verdade nada mais que a verdade por favor me ouçam não espanquei não bati em puta nenhuma mas dei uma bimbada rapidinha mesmo no meio da rua pergunta no Bar do Moacir pelo amor de doutor como eu posso ser criminoso se tava falando aqui por favor não me levem não me levem calma tá doendo não espanquei ninguém calma não prende assim não nem estuprei meu Deus não cuidado ai com a algema não me levem não me

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